Um dia, eu me encontrei no meio de uma extensa ponte. Uma ponte que não parecia ter fim, e que mal podia ser chamada assim de tão larga.
Eu precisava chegar do outro lado, então comecei a caminhar. Em meio a muitas outras pessoas, eu continuei a andar com meu próprio ritmo, esperando que chegasse logo o fim dessa travessia. Eu estava com pressa. Tinha muitas coisas para fazer, muitas metas para alcançar e incontáveis melhorias a realizar.
Mas meu passo curto era muito lento. Ou talvez o caminho fosse simplesmente longo demais. Conforme o tempo passou, comecei a prestar mais atenção naqueles que andavam, como eu, do que na minha própria caminhada. Haviam alguns poucos que corriam exasperados e eu logo perdia de vista. Haviam alguns que trombavam e caíam bastante, mas nunca hesitavam em se levantar e continuar sua caminhada. Haviam outros que não pareciam saber para onde iam. E haviam aqueles que simplesmente andavam, parecendo mais hesitantes do que deveriam.
E por último, e mais numerosos, haviam aqueles que simplesmente ficavam parados. Enquanto os outros os ultrapassavam, os derrubavam, os empurravam e os ignoravam, eles simplesmente permaneciam em seus lugares, como se aquele lugar de travessia houvesse se tornado alguma espécie de lar, de casa. Como se estivessem acomodados daquele jeito.
Eu logo estranhei. Porque alguém iria querer ficar aqui? Não há nada aqui. O propósito dessa ponte é ser atravessada. Eles não sabiam disso? Não entendiam isso? Minha indignação era demais. Mas depois de um pouco mais de observação, eu comecei a notar ainda outro grupo, que parecia aparecer do nada quando nós, que ainda estamos a atravessar, menos esperávamos. Eles tomavam aqueles que estavam parados pelo braço e os motivavam a correr. Se aproximavam daqueles que simplesmente andavam e incentivavam seus esforços. Alcançavam os perdidos e lhes mostravam o caminho. Guiavam os passos dos que caíam e os protegiam na queda.
Esse grupo, vestido de branco, se mostrava cada vez mais numeroso. O fato de que eu não os havia notado até me deixou surpreendido. Mas logo essa surpresa foi sobrepujada por uma outra sensação, e eu logo percebi que havia algo irritando. Ou melhor, que a falta de algo estava me incomodando.
Então eu olhei para frente, e vi um homem sorrindo para mim estendendo sua mão. Quando olhei em seus olhos, minha surpresa retornou, e eu compreendi o porque dessa sensação estranha.
Nos olhos dele, eu me vi com outro rosto, com outro sorriso, com outros olhos e com outro corpo. Não um mais velho, mas um completamente diferente. Quem sabe quantas vezes eu já havia passado por este processo. E provavelmente, iria passar por ele de novo.
Mas não era isso o que me incomodara. Muito menos essa a razão de eu poder vê-los. Eu os via porque eu precisava vê-los. Eu precisava deles, pois em minha distração, eu também me encontrava parado.
Lucas Rangel Lima
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"A vida é uma longa travessia, cujo destino é conhecido apenas por aqueles que já não precisam mais cruzá-la."