Era uma vez um homem
Que só pensava em colorir seu mundo
Seja com música, arte, conto ou sensação
Tudo o que ele desejava
Era continuar vivendo feliz
Mas um dia, alguém lhe sussurrou
"De novo essa música?"
E o som emudeceu
"Não se cansa de olhar essa paisagem?"
E as cores desbotaram
"Mais uma vez com a mesma história?"
E o encanto se perdeu
"Nenhuma nova emoção?"
E o coração...
O sussurro estava certo
Nada brilhava para sempre
Não importa quantas coisas novas o homem descobrisse
No dia seguinte, elas eram passado
E já haviam sido admiradas demais
Com o tempo, o homem parou de colorir
Fosse com música, arte, conto ou sensação
Tudo o que ele havia feito
Já não era capaz de fazê-lo feliz
O homem, que um dia fora uma criança por dentro
Agora era um velho
Que nem mesmo chorava
Lucas Rangel Lima
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"O momento muda, e tudo muda com ele. O tempo só para para aqueles que ficam para trás."
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3 de abr. de 2012
1 de jan. de 2012
A Sombra Oca - Hipócritas
Aquele lugar fedia...
Um cheiro forte de alvejante vencido estava sempre presente...
Até hoje não acredito que tenha percebido a luz na presença daquela aura desconcertante.
Mas os sacrifícios tinham que começar. Foi naquela noite que eu vi sua hipocrisia... Na noite que eu vi o brilho abandonar seus olhos...
As vezes eu penso te-los feito um favor... Livrando-os das mentiras...
Hipócritas...
Um cheiro forte de alvejante vencido estava sempre presente...
Até hoje não acredito que tenha percebido a luz na presença daquela aura desconcertante.
Mas os sacrifícios tinham que começar. Foi naquela noite que eu vi sua hipocrisia... Na noite que eu vi o brilho abandonar seus olhos...
As vezes eu penso te-los feito um favor... Livrando-os das mentiras...
Hipócritas...
21 de dez. de 2011
A Sombra Oca - Não com uma explosão, mas com um suspiro...
Quantos anos?
Dez? Quinze? Vinte?
Não importa... Ou melhor, não me importo...
Passados os gritos e o sangue, nada mais importou...
Pensava eu, inocente, que sozinho veria de novo a luz....
Tola hipocrisia.... Fez-me sucumbir a uma luxúria que hoje não posso mais controlar... Que não quero mais controlar...
E é assim que tudo acaba... Não com uma explosão, mas com um suspiro...
Dez? Quinze? Vinte?
Não importa... Ou melhor, não me importo...
Passados os gritos e o sangue, nada mais importou...
Pensava eu, inocente, que sozinho veria de novo a luz....
Tola hipocrisia.... Fez-me sucumbir a uma luxúria que hoje não posso mais controlar... Que não quero mais controlar...
E é assim que tudo acaba... Não com uma explosão, mas com um suspiro...
9 de dez. de 2011
A Sombra Oca - Quarta a tarde...
Escuro, solidão, isolamento.... Ouço as pessoas dizerem essas palavras com rancor e desprezo... Como se fossem algo a ser odiado ou temido...
Eu as abraço... As acolho e me deixo envolver.... Poucas são as coisas que se mostram mais satisfatórias que a mais pura ausência de qualquer outro que não o vazio existente nesses conceitos...
Mas vivemos num mundo de sociedade e luz... Pessoas e barulho... Ruído...
Não há nesse mundo algo mais odioso que os seres humanos... Toda pessoa que se faça pertencer a uma sociedade é, não só digna da minha pena, como passível de punição direta...
Coisas como essa me irritam...
23 de nov. de 2011
O Devorador de Maldições - Capítulo 3: Conclusões
Seja lá a origem do poder contido na espada branca, ele não seria suficiente. Seja lá quão forte fosse e habilidoso fosse o guerreiro que a empunhava, ele seria derrotado. Não havia outro destino para quem desafiava as Portadoras.
Aquelas que carregavam em si as mais cruéis maldições, que transformavam lentamente seus donos em Misérias, meros bonecos sem consciência, tudo em troca de poder. Aquelas que distorciam o coração humano e que logo iriam dar um fim a tudo. Aquelas cujo pavor eu até então não havia verdadeiramente compreendido. As Portadoras representavam a derrota, em todos os sentidos...
Bem, não iria demorar para que minhas crenças se provassem verdadeiras. Além disso, aquelas palavras continuavam a ecoar em minha cabeça...
"Não se preocupe, ela não é capaz de fazer mal algum a ninguém..."
O som das lâminas se chocando começou a se ecoou, me puxando de volta para a realidade. Meus olhos ardiam com a intensidade da batalha, mas fazia alguns segundos que eu não a acompanhava com a mente. O brilho da espada branca parecia estar fraquejando, enquanto a fúria e a força de sua inimiga apenas crescia.
Mas o que mais me chamou a atenção foi o fato de que o guerreiro negro estava se deliciando com o embate. Seu próprio prazer e loucura pareciam escorrer para a espada, e dela para o que com ela entrasse em contato. A Miséria não era um boneco da Portadora, e sim sua fonte de poder.
Como se esperasse apenas a conclusão do meu pensamento, a batalha se encerrou. No fim, a espada branca perdeu seu brilho e a espada negra se banhou em novo sangue. Eu agora era o único que havia sobrevivido.
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"Ser forte não se resume a ter poder. E por isso não lhe garante a vitória."
Aquelas que carregavam em si as mais cruéis maldições, que transformavam lentamente seus donos em Misérias, meros bonecos sem consciência, tudo em troca de poder. Aquelas que distorciam o coração humano e que logo iriam dar um fim a tudo. Aquelas cujo pavor eu até então não havia verdadeiramente compreendido. As Portadoras representavam a derrota, em todos os sentidos...
Bem, não iria demorar para que minhas crenças se provassem verdadeiras. Além disso, aquelas palavras continuavam a ecoar em minha cabeça...
"Não se preocupe, ela não é capaz de fazer mal algum a ninguém..."
O som das lâminas se chocando começou a se ecoou, me puxando de volta para a realidade. Meus olhos ardiam com a intensidade da batalha, mas fazia alguns segundos que eu não a acompanhava com a mente. O brilho da espada branca parecia estar fraquejando, enquanto a fúria e a força de sua inimiga apenas crescia.
Mas o que mais me chamou a atenção foi o fato de que o guerreiro negro estava se deliciando com o embate. Seu próprio prazer e loucura pareciam escorrer para a espada, e dela para o que com ela entrasse em contato. A Miséria não era um boneco da Portadora, e sim sua fonte de poder.
Como se esperasse apenas a conclusão do meu pensamento, a batalha se encerrou. No fim, a espada branca perdeu seu brilho e a espada negra se banhou em novo sangue. Eu agora era o único que havia sobrevivido.
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"Ser forte não se resume a ter poder. E por isso não lhe garante a vitória."
21 de nov. de 2011
A Sombra Oca - Sacrifício...
Não que isso mude alguma coisa...
Mas foi bom ver a luz...
Finalmente entender o que fazer a seguir...
Exigiria sacrifícios... Isolamento... Solidão...
É claro que isso não seriam sacrifícios para mim...
Sempre fui grato pelo silêncio... Acostumado à escuridão...
Mas outros teriam que se sacrificar... E Eu o faria sem hesitar, se pudesse ver novamente minha luz...
Foi numa quarta-feira que começaram os sacrifícios...
Mas foi bom ver a luz...
Finalmente entender o que fazer a seguir...
Exigiria sacrifícios... Isolamento... Solidão...
É claro que isso não seriam sacrifícios para mim...
Sempre fui grato pelo silêncio... Acostumado à escuridão...
Mas outros teriam que se sacrificar... E Eu o faria sem hesitar, se pudesse ver novamente minha luz...
Foi numa quarta-feira que começaram os sacrifícios...
19 de nov. de 2011
A Sombra Oca - Era domingo...
Vi um lapso de claridade hoje...
Luz...
Carga...
Chame como quiser... Mas era alguma coisa...
E qualquer coisa que seja alguma coisa é uma variação bastante aceitável do vácuo-super-ordenado que me rodeia...
Era domingo, e eu finalmente tinha uma razão para existir...
Luz...
Carga...
Chame como quiser... Mas era alguma coisa...
E qualquer coisa que seja alguma coisa é uma variação bastante aceitável do vácuo-super-ordenado que me rodeia...
Era domingo, e eu finalmente tinha uma razão para existir...
5 de nov. de 2011
O Devorador de Maldições - Capítulo 2: Passado (Parte 2)
Ele apareceu repentinamente em nossas vidas, e foi como se sua presença ali fosse natural. Não questionamos suas intenções, seu passado nem seu destino. Apenas aceitamos a nova companhia como se não houvesse mais nada que pudéssemos ter feito.
Bem, os anciões ficaram receosos nos primeiros dias, mas ele logo os conquistou com seu carisma e gentileza. Não demorou para que eu percebesse que grandes mudanças estavam por vir...
Aqueles que pareciam ter perdido para sempre seus sorrisos lentamente começaram a apresentar um estranho brilho nos olhos, como se estivessem vendo a vida pela primeira vez em anos. As crianças ficavam mais alegres perto dele. Havia uma especie de aura pacífica emanando dele.
Depois de dois meses, a vila havia mudado completamente. O ar não parecia mais amaldiçoado e nem parecia que vivíamos exilados. O homem de casaco branco havia trazido consigo algo que eu nunca teria conhecido de outra forma: Esperança. Não sei pelo que, mas era certamente isso...
A única coisa peculiar sobre ele era a espada longa que ele carregava. Em toda minha vida, as únicas armas que havia visto eram aquelas que os mais velhos usavam para caçar. Machados, arcos, facas... Mas nunca uma espada. Pelo menos não como aquela.
A lâmina deveria ter quase minha altura, com um palmo inteiro de comprimento. Mais branca que a neve de inverno, brilhante como só o sol sabia ser. E poderosa, sem dúvida muito poderosa. Imagino que tenha sido por causa dela que os anciões demoraram para acolhê-lo, uma vez que todas as espadas encantadas haviam sido destruídas pelas Portadoras e suas Misérias, mas ninguém ousou perguntar nada a ele. Ninguém exceto eu.
"Está interessado em minha espada garoto?" Disse ele, quando o indaguei. "Não se preocupe, ela não é capaz de fazer mal algum a ninguém. Eu a herdei de meu pai sabe? Ela é como uma guardiã e um tesouro ao mesmo tempo..."
Aquela resposta pareceu deixá-lo triste por um momento, então resolvi não perguntar mais nada no momento. Lembrando agora, me arrependo um pouco, mas ainda acho que foi a decisão correta. Afinal, não tinha como prever que aquela seria a nossa primeira e última conversa.
Na manhã seguinte, o sol não se levantou. Ao invés disso, eu despertei sob um céu tingido de vermelho e preto, acordado pelos gritos de pavor de todos os meus conhecidos.
Minhas memórias daquele momento são muito vagas. Lembro de entrar em desespero e de procurar por meus pais, sem sucesso. Eles não estavam em casa, e estava um caos do lado de fora. Ninguém parecia ser capaz de me reconhecer em meio a correria desordenada, e eu mesmo não me lembro do que fiz após sair. Só sei que quando me dei por mim, o homem de casaco branco estava ao meu lado e os gritos haviam se acabado.
Todos haviam perdido a consciência, e esperavam deitados o impiedoso julgamento. Sim, lembro-me de encarar aquilo como uma punição, como se a "esperança" que nos fora dada era desmerecida, e alguém viera para nos cobrar uma espécie de divida celestial. Eu estava prestes a aceitar meu destino, quando escutei uma voz levemente familiar:
"Me perdoe... Eu deveria ter imaginado que ele viria atrás de mim... Por favor, me perdoe pelo meu erro..." Dizia a voz.
Bem, naquela altura eu já sabia quem estava falando. O invasor, o visitante, o único que poderia ter trazido algo para nossa pacífica vila. Mas quando eu me virei para encará-lo, percebi que ele nem mesmo olhava para mim. Aquelas palavras eram para os corpos no chão. Para aqueles que eu até então pensava que estavam apenas inconscientes.
Mas as palavras seguintes eram claramente dirigidas ao homem que se encontrava parado de pé em meio aos meus antigos companheiros, carregando uma espada escura como a noite e molhada em sangue.
"Não pense que escapará dessa vez."
Mal consegui piscar meus olhos e a batalha havia começado. A espada colossal e brilhante parecia dançar com a beleza e elegância de um anjo, martelando sua oposta vermelha e negra, que difundia sua cor no céu.
Cada ataque parecia ser capaz de derrubar montanhas, cada corte era tão preciso quanto a mais precisa das flechadas. E mesmo assim, o inimigo parecia não recuar.
Aquilo era um monstro. Se a espada brilhante e seu guerreiro branco possuíam uma aparência divina, o oponente era o inferno incarnado, a morte errante. Foi como se minha mente tivesse finalmente entendido o que meu coração havia imediatamente compreendido. Aquele homem não era humano. Aquela espada não era normal, e aquele poder... Era inigualável. Aquilo só poderia ser uma coisa. Uma Portadora e sua Miséria.
Não tive tempo para me perguntar sobre as lendas que escutei desde criança, porque o que eu via era de certa forma muito diferente. Não, eu não conseguia desviar os olhos do que estava a minha frente. E também, não havia necessidade. Mesmo sem experiência nenhuma em batalhas, pude sentir: Aquela se aproximava de um fim.
-------------------------------------------------------------------------
"Felicidade nenhuma tem fim se nos dedicarmos corretamente a resolver nossos problemas."
Bem, os anciões ficaram receosos nos primeiros dias, mas ele logo os conquistou com seu carisma e gentileza. Não demorou para que eu percebesse que grandes mudanças estavam por vir...
Aqueles que pareciam ter perdido para sempre seus sorrisos lentamente começaram a apresentar um estranho brilho nos olhos, como se estivessem vendo a vida pela primeira vez em anos. As crianças ficavam mais alegres perto dele. Havia uma especie de aura pacífica emanando dele.
Depois de dois meses, a vila havia mudado completamente. O ar não parecia mais amaldiçoado e nem parecia que vivíamos exilados. O homem de casaco branco havia trazido consigo algo que eu nunca teria conhecido de outra forma: Esperança. Não sei pelo que, mas era certamente isso...
A única coisa peculiar sobre ele era a espada longa que ele carregava. Em toda minha vida, as únicas armas que havia visto eram aquelas que os mais velhos usavam para caçar. Machados, arcos, facas... Mas nunca uma espada. Pelo menos não como aquela.
A lâmina deveria ter quase minha altura, com um palmo inteiro de comprimento. Mais branca que a neve de inverno, brilhante como só o sol sabia ser. E poderosa, sem dúvida muito poderosa. Imagino que tenha sido por causa dela que os anciões demoraram para acolhê-lo, uma vez que todas as espadas encantadas haviam sido destruídas pelas Portadoras e suas Misérias, mas ninguém ousou perguntar nada a ele. Ninguém exceto eu.
"Está interessado em minha espada garoto?" Disse ele, quando o indaguei. "Não se preocupe, ela não é capaz de fazer mal algum a ninguém. Eu a herdei de meu pai sabe? Ela é como uma guardiã e um tesouro ao mesmo tempo..."
Aquela resposta pareceu deixá-lo triste por um momento, então resolvi não perguntar mais nada no momento. Lembrando agora, me arrependo um pouco, mas ainda acho que foi a decisão correta. Afinal, não tinha como prever que aquela seria a nossa primeira e última conversa.
Na manhã seguinte, o sol não se levantou. Ao invés disso, eu despertei sob um céu tingido de vermelho e preto, acordado pelos gritos de pavor de todos os meus conhecidos.
Minhas memórias daquele momento são muito vagas. Lembro de entrar em desespero e de procurar por meus pais, sem sucesso. Eles não estavam em casa, e estava um caos do lado de fora. Ninguém parecia ser capaz de me reconhecer em meio a correria desordenada, e eu mesmo não me lembro do que fiz após sair. Só sei que quando me dei por mim, o homem de casaco branco estava ao meu lado e os gritos haviam se acabado.
Todos haviam perdido a consciência, e esperavam deitados o impiedoso julgamento. Sim, lembro-me de encarar aquilo como uma punição, como se a "esperança" que nos fora dada era desmerecida, e alguém viera para nos cobrar uma espécie de divida celestial. Eu estava prestes a aceitar meu destino, quando escutei uma voz levemente familiar:
"Me perdoe... Eu deveria ter imaginado que ele viria atrás de mim... Por favor, me perdoe pelo meu erro..." Dizia a voz.
Bem, naquela altura eu já sabia quem estava falando. O invasor, o visitante, o único que poderia ter trazido algo para nossa pacífica vila. Mas quando eu me virei para encará-lo, percebi que ele nem mesmo olhava para mim. Aquelas palavras eram para os corpos no chão. Para aqueles que eu até então pensava que estavam apenas inconscientes.
Mas as palavras seguintes eram claramente dirigidas ao homem que se encontrava parado de pé em meio aos meus antigos companheiros, carregando uma espada escura como a noite e molhada em sangue.
"Não pense que escapará dessa vez."
Mal consegui piscar meus olhos e a batalha havia começado. A espada colossal e brilhante parecia dançar com a beleza e elegância de um anjo, martelando sua oposta vermelha e negra, que difundia sua cor no céu.
Cada ataque parecia ser capaz de derrubar montanhas, cada corte era tão preciso quanto a mais precisa das flechadas. E mesmo assim, o inimigo parecia não recuar.
Aquilo era um monstro. Se a espada brilhante e seu guerreiro branco possuíam uma aparência divina, o oponente era o inferno incarnado, a morte errante. Foi como se minha mente tivesse finalmente entendido o que meu coração havia imediatamente compreendido. Aquele homem não era humano. Aquela espada não era normal, e aquele poder... Era inigualável. Aquilo só poderia ser uma coisa. Uma Portadora e sua Miséria.
Não tive tempo para me perguntar sobre as lendas que escutei desde criança, porque o que eu via era de certa forma muito diferente. Não, eu não conseguia desviar os olhos do que estava a minha frente. E também, não havia necessidade. Mesmo sem experiência nenhuma em batalhas, pude sentir: Aquela se aproximava de um fim.
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"Felicidade nenhuma tem fim se nos dedicarmos corretamente a resolver nossos problemas."
3 de nov. de 2011
O Devorador de Maldições - Capítulo 1: Passado (Parte 1)
De acordo com os anciões, fazem quase quatro séculos desde o fim da era dos heróis. Todas as espadas lendárias do passado foram destruídas pelas onze Misérias e suas Portadoras no final dessa era, e até hoje nosso continente não conseguiu se recuperar. Uma vez que as Portadoras transformavam seus donos em Misérias e davam a eles corpos imortais e poderes inigualáveis, nunca houve esperança para herói algum. E agora, o povo é obrigado a apenas aceitar a infelicidade eterna.
Bem, eu nunca concordei com eles. Talvez porque eu era muito infantil na época e não entendia tudo aquilo, talvez porque eu nunca havia visto uma Miséria, uma Portadora ou um herói. Mas neste momento, eu finalmente obtive minha certeza.
Minha vida toda eu morei em uma pequena vila cercada pelas montanhas, em um lugar seguro do continente. Bem, digo isso apenas porque nenhum daqueles chamados Misérias e suas Portadoras haviam jamais se aproximado dali. A vila ficava em um lugar horrível, próximo das regiões da floresta onde habitavam ursos e lobos. Sempre tive uma vida difícil, mas fui educado a não reclamar. Diziam-me que era uma benção termos "apenas" lobos e ursos como visitantes...
Tirávamos o necessário para viver da terra e dos rios, mas mal conseguíamos alimentar nossas crianças e idosos. Respirávamos o ar poluído por uma maldição antiga, e sofríamos por pecados que nunca cometemos. Mesmo assim eles ousavam dizer aquela palavra: "Benção".
Isso criou minha primeira imagem, meu primeiro medo das Misérias. Se realmente existia algo tão terrível que faria aquilo tudo parecer uma benção aos olhos dos sábios anciões, ele merecia ser temido. Mas logo eu cresci, e como todas as crianças da minha idade, comecei a questionar e a esquecer tais temores.
Então veio a adolescência, e eu comecei a perceber melhor o mundo ao meu redor. Os mais velhos, aqueles que fugiram de além das montanhas, não pareciam ser capazes de sentir felicidade. Isso nunca me passara pela cabeça, mas assim que eu me dei conta desse fato, meu segundo medo das Misérias nascera.
Afinal, aquelas pessoas eram fortes. Eram eles que enfrentavam os ursos e os lobos sem temer dia após dia. que adentravam a floresta por dias e noites procurando por comida. Aquelas pessoas, aos meus olhos de criança, não temiam nada.
Mas agora eu entendia o porque. Um terror que eu nunca poderia imaginar já havia os dominado uma vez, e roubado tudo o que podia de suas pobres almas. Aquelas criaturas que eu temera em minha infância eram reais.
Então, vivi minha vida agradecendo por nunca telas visto. E fui feliz, até aquele dia. O dia em que o homem do casaco branco apareceu.
--------------------------------------------------------------
"A diferença entre o medo e o terror é que o medo pode ser combatido com coragem."
Bem, eu nunca concordei com eles. Talvez porque eu era muito infantil na época e não entendia tudo aquilo, talvez porque eu nunca havia visto uma Miséria, uma Portadora ou um herói. Mas neste momento, eu finalmente obtive minha certeza.
Minha vida toda eu morei em uma pequena vila cercada pelas montanhas, em um lugar seguro do continente. Bem, digo isso apenas porque nenhum daqueles chamados Misérias e suas Portadoras haviam jamais se aproximado dali. A vila ficava em um lugar horrível, próximo das regiões da floresta onde habitavam ursos e lobos. Sempre tive uma vida difícil, mas fui educado a não reclamar. Diziam-me que era uma benção termos "apenas" lobos e ursos como visitantes...
Tirávamos o necessário para viver da terra e dos rios, mas mal conseguíamos alimentar nossas crianças e idosos. Respirávamos o ar poluído por uma maldição antiga, e sofríamos por pecados que nunca cometemos. Mesmo assim eles ousavam dizer aquela palavra: "Benção".
Isso criou minha primeira imagem, meu primeiro medo das Misérias. Se realmente existia algo tão terrível que faria aquilo tudo parecer uma benção aos olhos dos sábios anciões, ele merecia ser temido. Mas logo eu cresci, e como todas as crianças da minha idade, comecei a questionar e a esquecer tais temores.
Então veio a adolescência, e eu comecei a perceber melhor o mundo ao meu redor. Os mais velhos, aqueles que fugiram de além das montanhas, não pareciam ser capazes de sentir felicidade. Isso nunca me passara pela cabeça, mas assim que eu me dei conta desse fato, meu segundo medo das Misérias nascera.
Afinal, aquelas pessoas eram fortes. Eram eles que enfrentavam os ursos e os lobos sem temer dia após dia. que adentravam a floresta por dias e noites procurando por comida. Aquelas pessoas, aos meus olhos de criança, não temiam nada.
Mas agora eu entendia o porque. Um terror que eu nunca poderia imaginar já havia os dominado uma vez, e roubado tudo o que podia de suas pobres almas. Aquelas criaturas que eu temera em minha infância eram reais.
Então, vivi minha vida agradecendo por nunca telas visto. E fui feliz, até aquele dia. O dia em que o homem do casaco branco apareceu.
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"A diferença entre o medo e o terror é que o medo pode ser combatido com coragem."
11 de out. de 2011
O Devorador de Maldições - Prólogo
Então, faz um tempo que eu to pensando em voltar com outro conto, tipo O Rei e o Lobo (adorei escrever aquilo), mas não tinha nenhuma ideia para desdobrar (mesma razão por n]ao estar continuando A Vida Que Eu Sonhava Ter e More Than a Soldier, Less Than a Man), portanto me perdoem se está não ficar muito boa.
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Em uma era antiga, quando os homens ainda dominavam os segredos da magia e dos reinos divinos, nasceu entre eles um jovem promissor, que se destacava principalmente nas artes da forja e da feitiçaria. Seus dons eram inequiparáveis, permitindo-o a alcançar a maestria em uma vasta quantidade de estilos antes mesmo da idade adulta.
Cada uma das espadas encantadas que ele forjava era digna dos maiores heróis, e não havia um homem que ao colocar suas mãos em uma delas não realizou feitos lendários.
Porém, isso pouco interessava ao jovem. Uma vez que sua visão e compreensão ascendiam as dos que o cercavam, tudo o que se passava era óbvio, e portanto comum a ele. Por entender demais, ele perdeu a capacidade de interagir e compartilhar com seus iguais.
Então, ele continuou forjando, a procura do que lhe faltava. Em sua cabeça, as espadas que saiam de sua fornalha eram as únicas companheiras que ele possuía. E mesmo elas, por conta de sua excelência, estavam destinadas a abandoná-lo.
Dia após dia ele dedicava seu tempo aos estudos, a busca por materiais e por novos encantos, forjando cada vez mais poderosas armas. Na idade adulta, ele já não permitia que suas companheiras vivessem mais de um dia, uma vez que estas agora eram tão poderosas que sua mera existência punha em risco a centenas de vidas.
A solidão e o tempo o haviam cegado. Ou melhor, o havia feito entender que ele nunca alcançaria sua resposta. Não importasse quantas espadas criasse, quantos heróis elas por si mesmas criassem, quanto significado seus feitos obtivessem, ele continuaria tão distante e solitário quanto sempre estivera.
E como seu último ato, talvez porque já havia sido dominado pelo cansaço, talvez como um último recurso para realizar seu objetivo, ele forjou treze lâminas. Cada uma com a capacidade de entender o coração de seu mestre e manifestar a força do espírito do mesmo. Dessa forma, mesmo que ele nunca fosse entender o coração de outra pessoa, aquelas que ele considerava sua única companhia iriam fazê-lo.
Assim, o pobre ferreiro morreu, sem saber que as lâminas que ele havia criado como sua esperança receberiam um dia a alcunha de "Portadoras* da Desgraça".
*"Portadoras" com a conotação de quem traz, não de quem carrega.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------
"Não importa o que dizem, apenas tentar compreender o próximo nunca basta. Este se provaria apenas mais um modo de morrer sozinho. O que mais precisamos é nesse processo, sermos compreendidos."
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Em uma era antiga, quando os homens ainda dominavam os segredos da magia e dos reinos divinos, nasceu entre eles um jovem promissor, que se destacava principalmente nas artes da forja e da feitiçaria. Seus dons eram inequiparáveis, permitindo-o a alcançar a maestria em uma vasta quantidade de estilos antes mesmo da idade adulta.
Cada uma das espadas encantadas que ele forjava era digna dos maiores heróis, e não havia um homem que ao colocar suas mãos em uma delas não realizou feitos lendários.
Porém, isso pouco interessava ao jovem. Uma vez que sua visão e compreensão ascendiam as dos que o cercavam, tudo o que se passava era óbvio, e portanto comum a ele. Por entender demais, ele perdeu a capacidade de interagir e compartilhar com seus iguais.
Então, ele continuou forjando, a procura do que lhe faltava. Em sua cabeça, as espadas que saiam de sua fornalha eram as únicas companheiras que ele possuía. E mesmo elas, por conta de sua excelência, estavam destinadas a abandoná-lo.
Dia após dia ele dedicava seu tempo aos estudos, a busca por materiais e por novos encantos, forjando cada vez mais poderosas armas. Na idade adulta, ele já não permitia que suas companheiras vivessem mais de um dia, uma vez que estas agora eram tão poderosas que sua mera existência punha em risco a centenas de vidas.
A solidão e o tempo o haviam cegado. Ou melhor, o havia feito entender que ele nunca alcançaria sua resposta. Não importasse quantas espadas criasse, quantos heróis elas por si mesmas criassem, quanto significado seus feitos obtivessem, ele continuaria tão distante e solitário quanto sempre estivera.
E como seu último ato, talvez porque já havia sido dominado pelo cansaço, talvez como um último recurso para realizar seu objetivo, ele forjou treze lâminas. Cada uma com a capacidade de entender o coração de seu mestre e manifestar a força do espírito do mesmo. Dessa forma, mesmo que ele nunca fosse entender o coração de outra pessoa, aquelas que ele considerava sua única companhia iriam fazê-lo.
Assim, o pobre ferreiro morreu, sem saber que as lâminas que ele havia criado como sua esperança receberiam um dia a alcunha de "Portadoras* da Desgraça".
*"Portadoras" com a conotação de quem traz, não de quem carrega.
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"Não importa o que dizem, apenas tentar compreender o próximo nunca basta. Este se provaria apenas mais um modo de morrer sozinho. O que mais precisamos é nesse processo, sermos compreendidos."
26 de set. de 2011
A Sombra Oca - O Filósofo Vazio
Era sábado, e minha vida era oca... Solitário, confuso, sem amigos ou amantes; e nem sequer uma realização que valha ser lembrada.
Acordei e abri os olhos, não necessariamente nessa ordem. Protelei como sempre para levantar da cama, tomei café e percebi a comodidade com que eu me enterrei nessa deprimente rotina...
Não havia absolutamente nada, de bom ou de ruim, que vá ser lembrado...
Prossegui meu dia, atônito, e a cada momento mais certo de que, se eu desaparecesse de repente, não faria a menor diferença para o funcionamento do universo. Lembrei-me então do sonho, o que eu tive antes de acordar e, por consequência, perceber que sou nulo.
Não havia absolutamente nada, de bom ou de ruim, que vá ser lembrado...
Prossegui meu dia, atônito, e a cada momento mais certo de que, se eu desaparecesse de repente, não faria a menor diferença para o funcionamento do universo. Lembrei-me então do sonho, o que eu tive antes de acordar e, por consequência, perceber que sou nulo.
Era vazio, escuro e assombrosamente familiar... Sem nada a vista nem som algum para se ouvir. Apenas um vazio aterrador, que era assombrosamente familiar; só depois de acordar percebi que aquilo era minha vida, meu passado, meu presente, e se eu não fizesse algo a respeito, meu futuro...
Foi então, com meros sete anos de idade, que eu percebi a necessidade de mudar. Pois “se penso, logo existo”, ao não pensar, opino por não existir... E sendo o pensar a premissa de fazer, se não o fiz foi por não pensar. Precisava então começar a pensar, a questionar para então, fazer algo a respeito; e quem sabe remover o vazio que se fixava em meu peito.
Foi nesse dia, talvez por um sonho apressadamente interpretado, que eu me tornei, uma sombra oca...
23 de set. de 2011
O Rei e o Lobo - Capítulo Final: O Rei, O Lobo, O Homem.
Reescrevi o fim. Espero que gostem. Ah, eu guardei a versão antiga, mas ela não está mais no site. Caso queiram lê-la novamente, me avisem nos comentários.
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Dias e meses se arrastaram. O castelo, a cidade, a floresta e em seguida, o restante do reino. Tudo se tornou um campo de batalha, e todos se tornaram vítimas de algo que só poderia ser comparado a uma guerra.
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Dias e meses se arrastaram. O castelo, a cidade, a floresta e em seguida, o restante do reino. Tudo se tornou um campo de batalha, e todos se tornaram vítimas de algo que só poderia ser comparado a uma guerra.
De um lado, uma fera negra e vermelha, que parecia não ser mais capaz de sentir a dor de suas feridas.
Do outro, um homem brilhando dourado, que parecia não ser mais capaz de conter o prazer de sua loucura.
Impotentes, os sobreviventes faziam apenas rezar e fugir, na esperança de que um dia a batalha chegasse a um fim. Esperando que um herói, como o que desapareceu anos atrás, se revelasse. Esperando que seu rei finalmente vencesse, e trouxesse de volta a paz. Ou até mesmo que a fera o devorasse e aplacasse sua fúria.
Mas nenhum desses sentimentos pôde jamais alcançou nenhum dos dois. Depois de tanto tempo em constante batalha, a unica coisa que ambos conseguiam perceber eram um ao outro. E o único desejo que eles conseguiam compartilhar era o de matar e usurpar a vida e o poder de seu oponente.
Era como se antes mesmo da batalha ter fim, as presas tivessem se unido novamente. Suas vontades, seus pensamentos, suas ações, sues corpos, tudo estava sincronizado. Nem mesmo a fera original, enlouquecida pela eternidade, havia as sublimado a tal nível. Qualquer sentimento a diferenciar seus mestres já havia sido jogado fora pelo bem da vitória.
Logo, a batalha não tinha fim. Nunca teria. Os dois loucos infinitamente poderosos estavam destinados a batalhar para sempre e destruir a tudo.
E assim foi. Todos os desejos e sentimentos que guiaram as peças até aquele momento haviam caído por terra, engolidos pela fúria. Uma chama que iria a tudo queimar, até que sobrasse somente a si mesma.
O reino logo encontrou seu fim. A terra também não tardou a ser silenciada. A única coisa que os impedia de acabar com o restante do mundo era o oceano.
E assim eles continuaram, até os dias de hoje. Destruindo suas próprias terras, seus entes queridos, seus servos leais e seus antigos protegidos. Seus antigos sentimentos, suas antigas ambições, até mesmo a memória dos dias de paz, tudo sendo arrastado e apagado por sua fúria. Uma premissa para a humanidade em contradição com a sua própria selvageria, estando igualmente destinada a auto-destruição em fúria.
Lucas Rangel Lima
E assim eles continuaram, até os dias de hoje. Destruindo suas próprias terras, seus entes queridos, seus servos leais e seus antigos protegidos. Seus antigos sentimentos, suas antigas ambições, até mesmo a memória dos dias de paz, tudo sendo arrastado e apagado por sua fúria. Uma premissa para a humanidade em contradição com a sua própria selvageria, estando igualmente destinada a auto-destruição em fúria.
Lucas Rangel Lima
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"O fim de um grande herói (ou vilão) é sempre o prólogo de um novo mundo"
14 de abr. de 2011
A Sombra Oca - Prólogo
De todos os males que assolam o mundo, o pior deverá ser o tédio. Poucas coisas assombram mais uma mente brilhante que a eminência da monotonia; Leva algumas ao desespero, e até mesmo à loucura.
"Como poderia alguém viver rodeado na sobrecarga de ordem gerada pelo tédio?"
"Como poderia alguém viver rodeado na sobrecarga de ordem gerada pelo tédio?"
Sobrecarga? O que eu estou pensando? Eu estaria feliz se houvesse alguma carga... não há como suportar o peso do vazio! E afinal, se somos aquilo que fazemos, ao não termos nada para fazer deixamos de ser alguma coisa, certo? Nos tornamos apenas uma sombra oca de uma existência...
É isso, então, que me tornei, um resíduo do que um dia foi algo; Sou uma sombra oca, em busca da carga a me preencher.
Sou nada, e como tal não existo, apenas assisto em monotonia enquanto os outros existem e se deixam existir... Passivos, tolos, sem a menor consciência da dádiva que receberam; De quanto podem ver por causa de suas próprias cegueiras.
É isso, então, que me tornei, um resíduo do que um dia foi algo; Sou uma sombra oca, em busca da carga a me preencher.
Sou nada, e como tal não existo, apenas assisto em monotonia enquanto os outros existem e se deixam existir... Passivos, tolos, sem a menor consciência da dádiva que receberam; De quanto podem ver por causa de suas próprias cegueiras.
7 de abr. de 2011
O Rei e o Lobo - Capítulo 12: O Rei e o Lobo
Um apenas fitava o outro. Duas entidades munidas com poder imensurável, capazes de varrer todo um exército em questão de segundos, frente a frente nos jardins destruídos do castelo. Cada um carregando o símbolo de seu poder. A espada do Herói contra a fúria de seu filho. A lâmina do rei e a presa da fera. O Rei e o Lobo.
Não havia razão para se demorarem mais. Um investiu contra o outro, provocando um choque de poderes que abalou os muros e as paredes do castelo. Os soldados restantes que tentaram se aproximar foram lançados pelo ar e trucidados na queda, como frágeis bonecos de madeira atirados por uma janela.
A espada do rei, desprovida da coragem e da bravura de um herói, não fez mais do que um arranhão na pelurgem espessa do lobo, mas seus poderes foram suficientes para protegê-lo de um ataque.
Mas o Rei não estremecia. Havia apenas uma alegria doentia em seu sorriso. Ele parecia ansiar por esta batalha sua vida inteira, uma batalha até a morte contra o único oponente capaz de levá-lo ao limite. E nada poderia deixa-la mais perfeita quanto sua recompensa.
O Rei ainda não havia deixado de lado sua ambição. Mesmo depois de passar anos tendo sua mente envenenada pela selvageria de sua presa, ele ainda desejava loucamente pelo par completo. Mais do que as terras que ele um dia desejava comandar, mais do que o povo que ele um dia pensava em dominar, mais do que o império que ele um dia sonhava em erguer, ele queria seu poder.
Não, talvez ele apenas estivesse viciado no êxtase da batalha. Talvez ele apenas tivesse desenvolvido um gosto pela destruição que a presa causada. Ou talvez a presa tivesse finalmente o convencido, e ele agora estava trilhando o mesmo caminho que seu oponente.
De qualquer forma, ele continuou a lutar. Não como um herói, digno de empunhar a espada que parecia trincar cada vez mais a cada golpe. Não como um rei, cumprindo seu dever ao proteger seu povo. Ele nunca quis ser nada disso. Ele um dia fora um homem ganancioso. Agora ele era um Deus simplesmente humano.
E então, sua espada finalmente quebrou. Apesar de não ter sido um oponente tão excitante quanto o que enfrentava agora, o herói que lhe traiu e lhe roubou uma das presas havia lutado bravamente antes de morrer e pareceu ter danificado a espada que o mesmo usou para matar a fera original. Era como se ele estivesse enfrentando pai e filho ao mesmo tempo.
Agora, a batalha se resumia a um conflito entre fúria e egoísmo. Uma massa de ódio contra um coração ambicioso.
Um conflito onde nenhum lado iria vencer.
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"Não é que o bem sempre vence o mal. Simplesmente quando o bem perde, não há vencedor."
26 de fev. de 2011
O Rei e o Lobo - Capítulo 11: Desespero e Loucura
Desculpa ter relaxado esse mês, volta as aulas é uma droga e atrapalha muito a criatividade.
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O jovem não deu atenção as palavras do Rei. Talvez nem mesmo conseguiu escutá-las. Ele apenas disparou contra ele, finalmente transformado por completo.
Ele já não lembrava da sua vingança, nem de seus amados. Sua fúria já havia transcendido todos os limites e se transformado em pura violência. Seu poder era tão monstruoso e nocivo que as estruturas do castelo pareciam prestes a ceder apenas pela sua presença.
Mas o Rei não se deixou ameaçar. Apenas sorriu largamente e se deixou ser atacado.
A investida atravessou as paredes do castelo, destruindo a torre onde estavam e atirando-os num precipício. Durante a queda, o jovem continuou atacando o rei com seus dentes e garras lupinos, rasgando e retalhando a pele de seu inimigo. E mesmo assim o sorriso do rei não estremeceu.
Como se julgasse hilariante e fútil o esforço do jovem para derrotá-lo, o Rei simplesmente se deixou ser pulverizado durante a longa queda até o chão. Mesmo quando os dois se chocaram contra o chão, o Rei não fez nada para amenizar o impacto. Ele não se preocupava com nada, ele não hesitava perante a nada, ele não temia mais nada.
Afinal, nada disso era necessário.
Depois de tantos anos com sua presa, pensar que um jovem desesperado poderia derrotá-lo era inconcebível. Não, aquilo não poderia mais nem ser chamado de desespero. Desespero era uma emoção que apenas um ser humano poderia sentir, e o Rei pelo menos reconhecia que ambos haviam ultrapassado esse nível.
Aquilo era a fúria de um deus louco. Uma existência amaldiçoada com poderes sem limites e emoções que não podiam ser controladas.
E por esta última, ele nunca seria capaz de vencer.
Quando a poeira da queda baixou, o Rei estava novamente de pé e em perfeito estado, com espada desembainhada e o sorriso intocado. Ali iria começar a verdadeira batalha.
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"Aqueles que lutam por amor nunca carregam a fúria em sua espada. Principalmente porque aqueles que lutam pelo ódio também não."
4 de fev. de 2011
O Rei e o Lobo - Capítulo 10: Fim do Destino
E então, o rancor cegou seus olhos e o jovem já não distinguia quem era seu inimigo. Sua fúria acumulada o transformou em pura violência, controlada apena alma.as por seu último vestígio de pensamento, que servia como canalizador para os sentimentos animalescos que agora inundavam sua alma.
Movido por esse pensamento, ele atropelou e aniquilou metade da cidade, abrindo seu caminho até o rei. seus golpes derrubavam casas, seus uivos explodiam janelas. Nada ousava permanecer em seu caminho, nem mesmo sua própria humanidade. Segundos, minutos, horas e dias se arrastaram para aquela alma enlouquecida, eternidades se atrofiaram nos poucos momentos que ele demorou para alcançar o portão do colossal castelo onde a presença do rei permanecia o desafiando.
E então, ele se abriu. Como se o convidasse a entrar e a testar sua força, sua convicção. Como se desejasse que ele colocasse um fim a toda a história que seu pai começou, que o Rei começou. Como se o chamasse para cumprir sua parte em um destino no qual ele foi forçado a participar.
Depois de um último momento de hesitação, um último reflexo de sua humanidade restante, ele começou a andar. Cada corredor do castelo parecia familiar para ele, como se as memórias do rei fossem transmitidas pelas presas. Pouco a pouco, ele se lembrou de uma época longínqua e surreal, onde um jovem príncipe corria feliz e satisfeito por aqueles corredores, sem se preocupar com o mundo a sua volta.
Mas não houve reação por parte de sua alma. Para ele, as imagens dentro dessas memórias não representavam nada. Seu coração já havia cedido para sua dor animalesca.
E dessa forma, reduzido a um espectro de íra e poder, ele abriu a última porta e encarou o Rei pela primeira vez.
"Seja bem vinda, minha pequena presa*"
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(Só avisando, tem duplo sentido na palavra "presa" que eu destaquei.)
"Ao deixar a si mesmo se tornar uma fera, sujeitai-vos sua vida a um reles caçador"
27 de jan. de 2011
O Rei e o Lobo - Capítulo 9: O Lobo
Sem poupar nenhum soldado que se colocasse em seu caminho, o jovem agora se deixava levar pela fúria. Ele podia sentir o poder do Rei se aproximando a cada passo que ele dava, como se estivesse a guiá-lo até sua perdição.
Mas o jovem não pretendia perder. Mesmo que o Rei teve muito mais tempo para se acostumar aos seus poderes do que ele, mesmo sabendo que as presas não estavam do seu lado, mesmo seu pai fora derrotado e morto, ele mantinha sua convicção.
Por dias ele viajou, parando apenas para comer e descansar. Seus sonhos foram assombrados por imagens de seu pai e de seu inimigo, como se estivessem a alimentar sua tristeza e seu rancor. Tudo o que ele conseguia pensar era em fazer aquele que matou seu pai sofrer.
No final do oitavo dia, ele finalmente alcançou os muros da cidade onde o Rei se encontrava. Mesmo de longe era possível ver o enorme castelo se estender para os céus, assim como era possível sentir uma ansiedade maligna vinda da maior de suas torres.
Nada mais se colocaria em seu caminho. Como se temessem a fúria do jovem, o muro, as casas e as pessoas simplesmente se desfizeram em chamas para que ele passasse. Não havia piedade em seus atos, toda sua humanidade já havia sido consumida pela vontade da presa. Cada centímetro que ele percorria até o castelo aumentava o ódio em sua alma, transformando-o lenta e irreversivelmente na única criatura que seria capaz de enfrentar e vencer o Rei. Na única criatura que seria capaz de controlar perfeitamente os poderes que ele possuía. Na única criatura fria o suficiente para puni-lo com a crueldade que ele merecia.
A fera apenas contada nas lendas.
O Lobo.
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"As vezes ficamos tão absortos em nossas emoções que acabamos nos tornando os monstros que deveríamos enfrentar".
22 de jan. de 2011
O Rei e o Lobo - Capítulo 8: Rancor
Depois de passar mais uma semana na floresta embriagado com seus novos poderes e nova perspectiva, o jovem finalmente se lembrou de quem era, de onde morava e de sua família, decidindo então voltar para casa.
A viagem de volta demorou apenas uma tarde.
O longo caminho que ele percorrera por longos dias cheio de perigos e trilhas confusas parecia agora um sonho distante. Sem derramar uma gota de suor, ele trilhou seu caminho de volta por entre a floresta como se andasse por sua própria casa. Seus sentidos estavam mais aguçados do que nunca, seu sangue borbulhava de agitação em suas veias. Ele se sentia como uma fera a solta.
Mas logo que ele saiu da floresta, essas sensações de liberdade foi substituída por receio. O poder que ele havia obtido lhe permitia escutar sons e discernir odores vindos dos lugares mais distantes, o que significava que ele era agora capaz de sentir a presença de cada pessoa em sua vila a distância. E para sua surpresa, seu pai se fora.
Correndo mais rápido do que o vento poderia jamais soprar, o jovem voltou para sua casa e encontrou sua mãe sozinha. Aparentemente, seu pai havia visto ele ser dominado pelo espírito durante um sonho, e partiu para enfrentar o rei em busca de um meio para salvá-lo.
O sonho era claramente uma armadilha ardilosa, provavelmente criada pelo Rei. Ou talvez, o rei nem mesmo soubesse disso, talvez as próprias presas tenham orquestrado os acontecimentos de modo a provocar a fúria do jovem e proporcionar uma chance para que elas se unissem novamente. De qualquer forma, a armadilha logo se provou eficiente.
Com sua audição aguçada, o jovem escutou os passos rápidos do cavalo quilômetros antes de este chegar á vila. Um mensageiro do rei o cavalgava, trazendo um proclame do próprio.
"O traidor que vocês abrigavam veio a mim e morreu. Tragam o filho dele até mim ou a vila será destruída."
Ao ouvir a notícia sobre seu pai, seu guia, seu herói, o garoto perdeu a razão. Seu ódio então se dirigiu ao pobre mensageiro, alimentado pelo poder da presa. Depois de descontar sua frustração, ele tomou do cadáver do mensageiro a folha em que estava escrito o proclame do rei para ler por si mesmo as palavras ali escritas.
A folha queimou em suas mãos quando lágrimas escorreram pelos seus olhos. Foi neste momento que, envenenado pelo ódio e pelo rancor, o jovem fez um juramento a si mesmo. Nunca perdoar o rei.
"E no fim, tomaremos a presa dele"
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"É nos momentos em que a escuridão nos envolve e a tristeza nos cega que nós mais precisamos de ser fortes e ter paz no coração, pois é nessa paz que vive a verdadeira satisfação"
11 de jan. de 2011
O Rei e o Lobo - Capítulo 7: Memórias e Lendas
Mas enquanto o guerreiro vivia sua vida em paz, o Rei o procurava desesperadamente. Seu poder incompleto o torturava dia após dia, como se sua presa sentisse falta da outra. E assim, dia após dia, mês após mês, ano após ano, sua ansiedade crescia e o deixava mais forte.
Já o filho do guerreiro, agora possuidor da segunda presa, vivia sua vida feliz e em paz, em uma das poucas vilas que o rei ainda não havia alcançado. Desde a infância até a juventude, ele viveu isolado das garras de seu soberano e sendo treinado por seu pai, que era de longe mais forte do que qualquer outro da vila.
E assim, o tempo passou até que o garoto atingiu a idade que o pai tinha quando enfrentou a fera.
No seu aniversário, ele foi presenteado com uma espada e uma armadura e enviado pelo pai para a floresta, onde ele deveria procurar por suas respostas. Confiante na palavra de seu pai, o jovem embarcou em sua primeira aventura.
Dias e noites ele passou vagando sozinho pela floresta, se alimentando apenas do que a natureza lhe oferecia. Mas mesmo perdido, cansado e enfraquecido, ele continuou andando sem fraquejar até que o vigésimo dia chegasse.
Como um sopro frio do passado, o jovem encontrou um altar antigo que parecia ter acabado de ser terminado. As pedras brilhavam sobre a luz da lua e os espíritos da noite pareciam dançar sobre sua cabeça. Surpreso e encantado, ele subiu no altar por uma escadaria de rocha polida.
Ao chegar no topo, o jovem encontrou o corpo de um homem deitado na mesa do altar. Seus cabelos eram negros como o céu noturno e sua aparência era calma e tranquila, como alguém pôde finalmente descansar depois de séculos de tormento. Ao se aproximar, o jovem notou que o homem possuía feições caninas, e que suas mãos se assemelhavam as garras de um lobo.
Se lembrando das histórias de seu pai, o jovem colocou sua mão sobre os lábios do homem, com a intenção de abri-los. Imediatamente, séculos de memórias misturadas a puro desespero atravessaram sua mente. Era como se a alma daquele homem estivesse ali esperando por ele, esperando para que pudesse compartilhar a história de como ele havia sacrificado a sua humanidade pela sua família e de como ele foi enganado por um espírito e forçado a se tornar uma fera. A história de como ele enfrentara e vencera a contra-gosto centenas e centenas de guerreiros que vieram a procura de seu poder. E a história de como ele fora derrotado por um único jovem carregando uma espada.
Quando tudo acabou, o jovem já não conseguia mais discernir se ele era a criança que nasceu em uma pequena vila ou o homem que viveu séculos como um monstro a habitar a floresta. Mas mesmo mergulhado em confusão, ele sabia de duas coisas. A primeira é que ele agora possuía controle total sobre o poder de sua presa. A segunda é que ainda havia uma presa faltando.
23 de dez. de 2010
O Rei e o Lobo - Capítulo 6: Derrotado
Ferido, cansado e perdido, o jovem guerreiro corria desesperado a esmo pelas florestas aos arredores do reino. As tropas do rei o perseguiam implacáveis e ele já não tinha mais forças para continuar caminhando.
Quando tudo parecia acabado e os guardas estavam para alcançá-lo, ele decidiu arriscar sua sorte e tentar usar o poder da presa para escapar. Convencido de que esta seria sua única escapatória, ele segurou a presa em sua mão direta e a apertou com toda a sua vontade. Como se escutasse o apelo de seu dono, a presa reagiu emitindo uma luz intensa que cegou os perseguidores por um momento. E no instante seguinte, ele havia sumido.
Quando o jovem guerreiro conseguiu abrir seus olhos, ele se encontrava sentado encostado a uma árvore nos arredores da vila próxima a floresta onde ele enfrentara o lobo. Suas feridas ainda doíam, mas não havia sinais de seus perseguidores por perto. Agradecido, ele guardou a presa novamente e se dirigiu a vila a procura de tratamento e abrigo.
Muitos o reconheceram e ofereceram ajuda, mesmo ele não tendo passado muito tempo interagindo com as pessoas em sua última visita. Ele logo recebeu o tratamento necessário, e, sem ter para onde voltar, decidiu permanecer na vila por uns tempos.
Começou a trabalhar como ajudante de um ferreiro, arranjou uma espada nova e com o passar do tempo, acabou se apaixonando. E assim, meses se passaram sem que os soldados do rei o procurassem ali.
O jovem guerreiro se casou, envelheceu e teve um filho, ao qual deixou seu bem mais precioso e sua memória mais dolorosa. O símbolo de sua glória e de sua derrota. Seu prêmio e sua perdição. A presa restante do lobo.
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