Ele era um momem sem história, sem passado. Sua vida não possuía propósito se não zelar por aqueles que já não precisam de seu auxilio. Seus dias se resumiam a perambular por aquele extenso cemitério, buscando oferendas das quais pudesse se alimentar.
Até que um dia, ele se encontrou com uma criança. Ao contrário de todos os adultos que a acompanhavam, e de todas as pessoas que ali um dia pisaram, ela se aproximou dele. Ela o notou. Para ela, ele não fazia parte do cenário, não era uma existência sem propósito. Para aquela criança, que experimentara tão cedo a dor da perda, o homem parecia ser a personificação de seus sentimentos. Todo o seu pesar, toda a sua tristeza, tudo era refletido naquela figura que vagava por ali aceitando oferendas por aqueles que não podiam fazê-lo.
E ao ver aquela figura, ao ter aquele rosto pesaroso refletido em seus olhos, a criança entendeu uma coisa, e parou de chorar. Deixou seu pesar de lado, e voltou ao altar, onde pôde abraçar seus parentes e consolá-los.
Quando todos foram embora, o homem se deu conta de seu propósito. Se deu conta de que deveria ir embora daquele lugar. Se deu conta de que os sentimentos ali depositados eram o que realmente o alimentava, e como aquela criança havia feito, deveria abandona-los.
Então ele esqueceu sua tristeza e partiu, esperando pela sua próxima chance.
Lucas Rangel Lima
-----------------------------------------------------------------------------
"Pesar pelo próximo é compaixão. Por si mesmo é apenas auto-piedade, e só trará mais dor"
Nenhum comentário:
Postar um comentário