5 de jul. de 2011

A Tristeza e o Cemitério

Era uma vez um homem, que vivia entre as centenas de túmulos de um cemitério. Este homem não tinha dinheiro nem moradia, era como uma sombra que morava em meio aos mortos e que se alimentava apenas das oferendas trazidas pelos familiares destes.

Ele era um momem sem história, sem passado. Sua vida não possuía propósito se não zelar por aqueles que já não precisam de seu auxilio. Seus dias se resumiam a perambular por aquele extenso cemitério, buscando oferendas das quais pudesse se alimentar.

Até que um dia, ele se encontrou com uma criança. Ao contrário de todos os adultos que a acompanhavam, e de todas as pessoas que ali um dia pisaram, ela se aproximou dele. Ela o notou. Para ela, ele não fazia parte do cenário, não era uma existência sem propósito. Para aquela criança, que experimentara tão cedo a dor da perda, o homem parecia ser a personificação de seus sentimentos. Todo o seu pesar, toda a sua tristeza, tudo era refletido naquela figura que vagava por ali aceitando oferendas por aqueles que não podiam fazê-lo.

E ao ver aquela figura, ao ter aquele rosto pesaroso refletido em seus olhos, a criança entendeu uma coisa, e parou de chorar. Deixou seu pesar de lado, e voltou ao altar, onde pôde abraçar seus parentes e consolá-los.

Quando todos foram embora, o homem se deu conta de seu propósito. Se deu conta de que deveria ir embora daquele lugar. Se deu conta de que os sentimentos ali depositados eram o que realmente o alimentava, e como aquela criança havia feito, deveria abandona-los.

Então ele esqueceu sua tristeza e partiu, esperando pela sua próxima chance.

Lucas Rangel Lima

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"Pesar pelo próximo é compaixão. Por si mesmo é apenas auto-piedade, e só trará mais dor"

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