"Voltar a ser humano?" Repeti, surpreso.
Não, surpreso não. Confuso. A ideia me parecia tão... Absurda. Tão errada, tão anormal. Não posso negar que não havia pensado nisso, que não havia desejado isso. Mas naquele momento, eu não conseguia mais pensar em uma razão para querer voltar a ser um humano.
"Sim, voltar a ser um humano. As transformações que já ocorreram ao seu corpo não poderão ser revertidas, mas sua alma será salva. E o nenhum dos pontos fracos compartilhados pelos Monstros irá lhe afligir mais." Explicou Forca, ainda me fitando com aqueles olhos de prata.
"Você tem sete noites para decidir."
Uma hora depois dessa conversa, logo antes do amanhecer, eu me encontrava escondido dentro da mesma casa em que havia acordado no começo daquela noite. Ao contrário de Meu Pai, eu ainda não podia simplesmente invocar morcegos a partir da minha sombra e procurar uma casa qualquer para me esconder, então simplesmente voltei ao lugar onde sabia que estaria seguro durante o dia.
Uma vez dentro da casa, não me surpreendi em me encontrar com ele sentado confortavelmente em um dos sofás, me esperando.
"Então... Você conheceu aquele pivete." Disse ele, olhando para mim com seus olhos vermelho sangue. "Ele deve ter feito uma proposta a você, não? Te devolver sua humanidade? Toda aquela história de 'Salvar a alma', 'viver sob o sol'... Ele deve ter cuspido o mesmo discurso em você não?"
"O mesmo discurso?" Perguntei, sem entender.
"Sim. Bem, você não é o primeiro que eu transformei. E entre os que eu transformei, não é o único a ter encontrado com Forca antes de se transformar completamente. Ele é uma das razões de eu ter parado de criar servos e companheiros." Respondeu ele, se levantando do sofá. "Eu te deixei naquela casa esperando que o choque acelerasse a sua transformação sabe? Esperando que você se tornasse um de nós antes dele descobrir que eu sobrevivi. Aparentemente, eu falhei. Mas você realmente é um rapaz sortudo! Ainda não consegui acreditar que ele não simplesmente te matou bem ali. Ele deve ter achado que você ainda quer voltar a ser humano."
Eu estremeci.
"Mas é claro... Não existe a possibilidade de você querer voltar a ser humano... Existe?"
"E-eu... Não sei." Respondi, gaguejando.
"Ah... É assim então?" Respondeu ele. Não havia nem surpresa nem decepção em sua voz, apenas uma estranha... Aceitação. "Bem... No final das contas, você voltou para essa casa, voltou para mim. Voltou para o Seu Pai. E amanhã, você irá caçar pela primeira vez."
"Sozinho."
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