15 de jan. de 2011

Relato de um homem de bom coração.

Se você me deixar ir contigo, eu irei. Se você for sem mim, o que me resta é lhe esperar.
Tu veio, tu foi, tu veio de novo e se foi novamente. Acabou por me deixar e ainda aqui em mim fica aquela vaga lembrança de um promessa mal-comprida de que você voltará. Ainda tenho na boca, aquele gosto amargo, aquele gosto amargo de fruta que não se amadureceu. Quando agente acha que está pronto para tudo, para experimentar tudo, pra provar ao mundo que tudo está bem... Olhamos pro lado no dia seguinte, acordamos e sentimos um peso a mais nos ombros e sentimos o gosto amargo na boca.

- ESPERA, não desligue... Eu ainda não terminei de dizer...

Aquela fruta amarga sendo provada, a cada "tu, tu, tu" do som do telefone.

Eu tinha duas opções: apertar redial ou bater com força o telefone no gancho. Mas não, resolvi terminar a frase e dizer pra ninguém, apenas pro telefone - eu te amo.
Voltei para eu mesmo, sentei no sofá, ligo a tv, finjo assistir, assim como finjo que estou ocupado quando me ligam convidando pra sair.

- Ah, cara... Nem vai dar, sabe como é: Trabalho de faculdade, uns papéis do estágio que eu tenho que entregar... - Eu mentia, muito mal.
- Ah, então deixa pra próxima, véi. Eu sei que você tranco a faculdade e foi demitido porque parou de estudar... - Ria meu amigo, do outro lado da linha. - Mas... tudo bem, eu te entendo assim como a entendi.

Pronto, foi isso. Uma preposição. Não foi dito nome, não foi feito ênfase. Apenas aquele simples e único "a". Voltei pra minha tv, voltei pro meu sofá, acendi um cigarro e quando já estava com ele acesso, tinha me lembrado que o cinzeiro estava cheio, me lembrei também que eu não podia fumar dentro de casa. Então, com o cigarro na mão, peguei a chaves, dei um trago e sai pela porta. Soltei a fumaça já fora de casa enquanto olhava pro céu, um céu sem nuvens, uma noite muito linda na verdade. Traguei de novo. Nessa mesma hora, tossi, e uma voz veio do lado esquerdo... eu sabia de quem era a voz, mas não quis virar.

- Se você tragar de novo, eu prometo que volto pra casa e não te falo o porque de estar aqui.

Estranho, não é? Alguém que jurou te odiar, que pediu para que não entrasse mais em contato, que de todos os meios comunicativos conseguiu te cortar, viesse falar com você sem mais nem menos. E isso foi suficiente pra sentir um calor entre o vão do dedo indicador e do meio, o cigarro queimara em minha mão, e eu acordara daquele sonho. Infelizmente.

Abri a torneira, totalmente. Dessa vez queria saber: se ainda estava sonhando ou se estava acordado. Limpei o rosto, olhei no espelho e não conseguia me ver. Não consegui ver nenhum dos meus sonhos realizados naquele reflexo, nenhuma das promessas compridas, nenhuma emoção por completa. Nenhuma. Nem uma.
Passei pelo hall da casa, tinha muitas opções: sentar no sofá, fumar, dormir, ou quem sabe....
E essa foi a decisão... Sai, sozinho, como de costume. Desci a rua com alguma esperança que a vida pudesse, se ainda pudesse chamar o que eu tinha de vida, me dar uma chance pra realmente viver, pra realmente encontrar um objetivo. Por isso, pensei:

- "E se eu for por um caminho diferente até o metrô?" - Pensei lentamente, e sorri, sorri como se eu fosse o cara mais inteligente do mundo.

Virei a direita, segui reto, olhei para o lado e vi escrito em um outdoor:

"Viva enquanto há vida"

Eu não sei se foi bom, se foi ruim, eu só sei que agora eu estou caminhando, a noite, apostando em qualquer coisa, acreditando no impossível, realizando sonhos.

O meu espelho reflete o meu sonho de agora.
As frutas já estão doces.

Um comentário: