Eu a visei esta noite novamente
E mais uma vez, como sempre
Me choquei com o que se tornou
Olhei para o sorriso
Que outrora, tanto me encantara
E vi presas amarelas, ameaçadoras
Cravadas em uma mandíbula quase canina
Prontas para me atravessar
Olhei para a mão
Que outrora, gentilmente me acariciara
E vi garras afiadas, cruéis
Transformando dedos em patas animalescas
Prontas para me rasgar
Olhei para o olhar
Que outrora, tanto me fizera sentir seguro
E vi fendas escuras, abismais
Querendo me aprisionar em terror e arrependimento
Prontas para me engolir
E me devorar em pesadelos
Mas mais uma vez, como sempre
Eu a abracei engolindo qualquer emoção
Qualquer sentimento que não fosse ternura
Súplica, perdão, calor, paixão
Amor
Mais uma vez, eu a abracei
Na esperança de que pudesse trazer o sorriso
Na esperança de que pudesse trazer o abraço
Na esperança de que pudesse trazer o brilho
De que pudesse trazer qualquer coisa de volta
De onde eu não pude evitar
De te deixar cair...
E mais uma vez, como sempre
Você olhou para mim
Rasgou meus braços
E me mordeu
Até estar satisfeito
Indiferente a minha impotência...
Lucas Rangel Lima
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