31 de mai. de 2014

Meu Medo

Eu queria te escrever uma poesia
Sobre como foi maravilhoso meu tempo contigo
Sobre o quão ansioso eu estava, quão nervoso
Quão feliz o seu sorriso me deixava

Eu passei noites imaginando sua cabeça em meu colo
E minhas mãos acariciando seu rosto
Enquanto eu cantava todas as músicas
Que exprimem o que sinto por você

Eu ria sozinho, sorrindo no escuro
E sonhava esquecendo do medo
Sim...

No entanto, parece que não será possível
Parece que como sempre, apenas enganei a mim mesmo
Que você quer me fazer de tolo
Me tratar como um idiota

As vezes eu penso sabe...
Como você ousa exigir tanto de mim
Quando é incapaz de me oferecer sequer metade?
Como ousa me chamar de fraco, de medroso
Temer me perder quando já me deixou para trás?

E ainda achar que pode dizer
"Ainda estou aqui"

Eu decidi ser mais forte que isso
Continuei a te amar independente da nossa loucura
Continuo a sonhar apesar de parecer em vão
E não pretendo cobrar de você nada em troca

Daquilo que eu não posso evitar de oferecer

Só peço, se possível
Que em algum momento, por favor
Supere seus medos, se lembre de mim
E me estenda sua mão
Me dê um abraço...

Lucas Rangel Lima

25 de mai. de 2014

A Cabana

Em meio a uma floresta sem fim
De árvores altas e imponentes
Grama verde e comportada
Havia uma pequena cabana solitária

Suas paredes eram de uma madeira escura
Diferente da de qualquer árvore naquela floresta
O gramado ao seu redor era alto e cinzento
Dificultando a qualquer um de se aproximar

Era como se ela não pertencesse à floresta
Como se fosse uma estranha, uma intrusa
Como se tivesse se perdido em seu abandono
E esquecido o lugar a onde pertence

Coberta de musgo, trepadeiras e teias de aranha
Janelas quebradas de um vidro fosco e manchado
Paredes tortas e lascadas, beirando a ruína
E um enorme buraco em seu telhado

Ela simplesmente apodrecia em silêncio
Incapaz de abrigar a mais ninguém
Envergonhada do estado em que chegara
Trancada por dentro pelos próprios escombros

Desejando um dia ser ocupada mais uma vez...
Desejando um dia ser cuidada uma primeira vez...

Sonhando com uma lareira acesa a aquecê-la
Quadros pendurados a decorá-la
Móveis espalhados a preenchê-la
E alguém a dar-lhe propósito

Era apenas isso o que a sustentava
O que a fazia resistir às cruéis tempestades
Esperar calmamente pelo sol durante à chuva
Ruir o mais lentamente possível

Mesmo ela sabendo que não havia mais volta
Que chegava a ser injusto desejar ser consertada
Que estava apenas a estender sua dor
Que independente do quanto aguentasse, só lhe restava o arrependimento

Ela permanecia na floresta
Cercada por árvores que não a reconheciam
Privada de qualquer luz e som
Fadada a esquecer como era o calor

Vivendo de esperanças doentes
Contraditórias, infelizes
Remoendo medo em seu interior
Sofrimento, rancor

Há quem diz tê-la visto
E achado-a bela
Há quem diz tê-la visto
E achado-a aconchegante

Há quem diz que ela está certa em esperar
Mas ao anoitecer, ninguém a procura

E sem ter como fugir do vazio que a devora
Sem ter como superar a derrota
Sem nem mesmo poder chorar
A pequena cabana solitária morre

Pouco a pouco
Todo dia

Lucas Rangel Lima

17 de mai. de 2014

Para Aquecer à Alma

Ele tinha frio
Portanto colocou o bule no fogo
Esperou a água ferver
Misturou suas ervas prediletas
E se aqueceu

Foi assim que aprendera a viver
Através da própria experiência
Foi assim que sobrevivera ao frio
E aprendera a amar o inverno

Vestindo seu casaco favorito
Suas botas e luvas mais confortáveis
Segurando uma bebida quente com as duas mãos
E ouvindo a uma lenta canção

Para aquecer à alma

Era assim que sabia viver
Como se o mundo tivesse lhe deixado de lado
Era assim que sobrevivera ao fim
Tantas vezes quanto seu coração aguentara

Assim que aprendera a se aceitar
E quem sabe,
Assim que um dia seria aceito...

Lucas Rangel Lima

14 de mai. de 2014

O Sentimento de um Instante

Depois do que pensara ser o ultimo instante
O sentimento abre os olhos e desperta
Sem entender a principio, ele pensa estar morto
Mas não demora a entender a verdade
Ele era imortal

Depois de olhar para si mesmo e suas feridas
O sentimento percebe que não sangra
Não importa a lança ou a espada que o fura
Nem o peso nem o fio do aço
Ele havia superado

Tudo parecia leve
Tudo parecia longe
Tudo parecia pequeno
Tudo parecia real
Ele era real

Por um instante
O sentimento se achou belo
Não quis desaparecer mais, ou se apagar
Quebrar promessas e se arrepender
Por um instante
O sentimento se sentiu eterno

E esse instante
Foi tudo o que bastou para que o fosse

Lucas Rangel Lima

8 de mai. de 2014

Aquele Sonho

Com um pincel molhado de tinta em mãos
Jornal velho esparramado pelo chão
E uma parede em minha frente,
Eu me lembrei de você

Lembrei que um dia sonhei
Com um quarto que fosse nosso
Cheio de objetos e móveis
Que teriam significado só para nos dois

Livros, bonecos de pelúcia,
Jogos, seriados, bobagens
E como você havia dito
Uma parede, pintada por nós dois
Um pouco a cada dia

Não sei como descrever o que senti
Não sei se sorri ou se quis chorar
Fiquei apenas a me perguntar
Se ainda há Amor nos meus pensamentos por ti...

Quis sonhar aquele sonho novamente
Por um instante sequer que fosse
Imaginar quão feliz eu poderia ter sido
E acreditar que pelo menos 

Você possa um dia vivê-lo

Lucas Rangel Lima

7 de mai. de 2014

A Limpeza e o Coração

Procurando por alguma coisa que esquecera
Ele começa a organizar os papeis e os livros
Os CDs e os cadernos jogados na mesa
Juntando os lápis e as canetas

Ele começa a organizar seu quarto

Começando pela escrivaninha
Que a tanto tempo abandonara
Deixara de lado, cansado dos estudos
Ele organiza, folha por folha, coisa por coisa

As roupas jogadas, amassadas, limpas e sujas
Como se não tivesse sido ele mesmo a largá-las ali
Ele as dobra e as recolhe apropriadamente
As guarda na cômoda e leva à lavanderia

A poeira cobrindo o chão e os móveis
Com uma vassoura recém comprada, ele varre
Limpa tudo, com um pano e lustra-móveis
Removendo todas as teias, todas as manchas

Ele então troca os lençóis de sua cama
Abre a janela, deixando o quarto respirar
A luz do sol entrar
E se deita por alguns minutos

Em seus sonhos,

Procurando por alguma coisa que perdera
Ele começa a organizar as lembranças e sentimentos
Os pensamentos e as memórias recentes
Juntando as conversas e as palavras

Ele começa a organizar seu coração

Começando pelo amor próprio
Que nem mesmo era capaz de lembrar quando perdera
Deixara de lado, cansado dos ferimentos
Ele reúne caco por caco, gota por gota

As pessoas amadas, esquecidas, vivas ou mortas
Como se não tivesse sido ele a prometer a eternidade
Ele as supera e abraça da forma que melhor entende
As agradece sincero e se despede calado

O egoísmo o corroendo por dentro
Com uma decisão impensada, ele afasta
Distancia tudo, com muito medo
Abandonando qualquer desculpa, qualquer perdão

Ele então escreve uma nova poesia
Abre sua alma, deixando o coração respirar
O desconforto da dor passar
E chora para sempre

Em seus sonhos
Em seu quarto

Sozinho

Lucas Rangel Lima

4 de mai. de 2014

Uma Certa Manhã

Ele abriu os olhos naquela manhã decidido
Ninguém precisava saber que ele não havia dormido
Que ele não conseguia mais descansar em seu repouso
Que agora ele escolhia não lembrar de seus sonhos

Ele mesmo, no final das contas
Na realidade
Não sabia de nada
Era idiota demais para entender
Havia tanta coisa acontecendo, talvez
Ele só
Não sabia

A cama sem lençol
A janela de vidro entreaberta, iluminando o quarto
A preguiça, o despertador, o calor, a tristeza
O vazio absurdo e ilógico
O sorriso

É. Ele estava decidido.
Ninguém precisava saber de nada
Ele não merecia nenhum descanso também
E no final das contas
Seus sonhos nunca foram muito bons mesmo....

Lucas Rangel Lima