Em meio a uma floresta sem fim
De árvores altas e imponentes
Grama verde e comportada
Havia uma pequena cabana solitária
Suas paredes eram de uma madeira escura
Diferente da de qualquer árvore naquela floresta
O gramado ao seu redor era alto e cinzento
Dificultando a qualquer um de se aproximar
Era como se ela não pertencesse à floresta
Como se fosse uma estranha, uma intrusa
Como se tivesse se perdido em seu abandono
E esquecido o lugar a onde pertence
Coberta de musgo, trepadeiras e teias de aranha
Janelas quebradas de um vidro fosco e manchado
Paredes tortas e lascadas, beirando a ruína
E um enorme buraco em seu telhado
Ela simplesmente apodrecia em silêncio
Incapaz de abrigar a mais ninguém
Envergonhada do estado em que chegara
Trancada por dentro pelos próprios escombros
Desejando um dia ser ocupada mais uma vez...
Desejando um dia ser cuidada uma primeira vez...
Sonhando com uma lareira acesa a aquecê-la
Quadros pendurados a decorá-la
Móveis espalhados a preenchê-la
E alguém a dar-lhe propósito
Era apenas isso o que a sustentava
O que a fazia resistir às cruéis tempestades
Esperar calmamente pelo sol durante à chuva
Ruir o mais lentamente possível
Mesmo ela sabendo que não havia mais volta
Que chegava a ser injusto desejar ser consertada
Que estava apenas a estender sua dor
Que independente do quanto aguentasse, só lhe restava o arrependimento
Ela permanecia na floresta
Cercada por árvores que não a reconheciam
Privada de qualquer luz e som
Fadada a esquecer como era o calor
Vivendo de esperanças doentes
Contraditórias, infelizes
Remoendo medo em seu interior
Sofrimento, rancor
Há quem diz tê-la visto
E achado-a bela
Há quem diz tê-la visto
E achado-a aconchegante
Há quem diz que ela está certa em esperar
Mas ao anoitecer, ninguém a procura
E sem ter como fugir do vazio que a devora
Sem ter como superar a derrota
Sem nem mesmo poder chorar
A pequena cabana solitária morre
Pouco a pouco
Todo dia
Lucas Rangel Lima
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