Deixo a tristeza inundar meu coração, mas não derramo lágrima nenhuma. Deixo o medo tomar conta de minha carne, mas não ouso tremer o braço em que carrego a espada. Deixo as memórias de seu rosto cravadas em minha mente me motivarem, mas não ouso pensar em retornar. Continuo caminhando em direção ao calor da batalha.
Sinto as flechas inimigas se quebrarem em meu escudo e cortarem minhas pernas. Já não posso mais andar direito. Mesmo assim, o que me vem a cabeça não é a dor, mas sim a voz daquela que amo a me encorajar. Volto a me erguer e a brandir minha espada.
Os inimigos se aproximam. Em seus olhos, eu só vejo fúria e morte, mas sei que seus corações também devem carregar o mesmo medo e o mesmo pesar que o meu carrega.
De qualquer forma, não me distraio. Penso em você e logo estou pedindo desculpas a mim mesmo e aos mortos.
E com o passar das horas, meus passos se tornam mais dolorosos. Com o bater das espadas, minhas mãos e braços ficaram dormentes. Com o queimar do fogo na escuridão, minha visão foi ficando embaçada. Apenas mais algumas horas para o amanhecer...
Apenas mais algumas horas... Se eu resistir por apenas mais algumas horas...
Ha, há quem estou tentando enganar...
Engraçado como estes sentimentos que pareciam tão triviais no passado e que até agora pouco guiavam minha espada em batalha conseguiram permanecer calados, para só neste meu último suspiro, se tornarem palavras.
"Me perdoe por não retornar. Te amo."
Lucas Rangel Lima
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"As pessoas tendem a não se expressar quando podem, se limitando a sofrer quando não querem."