10 de fev. de 2011

Crônicas de um Espírito - Capítulo 6

Todos nós morremos um dia. Está é uma certeza que podemos ter a partir do momento em que nascemos. A morte do corpo virá para todos. As vezes nós aproveitamos o tempo que nos foi dado para fazer a diferença, e as vezes nos cegamos no nosso egoísmo e cometemos erros do pior tipo. Mas não tenha dúvida, o universo é imparcial e justo. É o nosso trabalho tentar manter nossos irmãos no caminho que eles mesmos escolheram para alcançar a luz.

Desde que nasceu, César tinha problemas para mover suas pernas. Com o passar dos anos, esses problemas se espalharam para os braços e eventualmente, ele se tornou incapaz de andar e de utilizar as mãos.

Aos oito anos, ele perdeu completamente a mobilidade das pernas e começou a depender cada vez mais dos outros para conseguir viver uma vida normal. Aos doze, suas mãos já não eram capazes de segurar um garfo e ele precisava de ajuda para comer. Aos quinze, seus braços eram completamente inúteis e ele passava a maior parte do tempo em seu quarto, deitado na cama sem se mover. Todo este tempo, eu estive ao lado dele.

E agora, aos vinte e três anos, César se encontra em estado semi-vegetativo, recusando alimento e medicamento. Lentamente, sua saúde vem diminuindo e cada vez mais frequentemente ele tenta se matar.

E esta vai ser minha última interferência.

Todo dia, ao meio dia exatamente, os pais de César o levam a mesa e tentam fazê-lo comer o almoço preparado especialmente para ele. Hoje como sempre, ele tenta recusar com todas as suas formças, mas já faz dois dias que ele não come nada e sua mãe continua persistindo até que ele abre a boca e aceita que o alimentem.

Mas a cada garfada, uma idéia surge em sua mente. Depois de tantas tentativas falhas, ele havia quase desistido, mas a tentação dessa idéia era forte demais. Na sétima garfada, ele tentou se engasgar com a comida.

Sua mãe levou um susto, seu pai não sabia o que fazer.

"Não se preocupem, vai dar tudo certo" Afirmei. Minhas palavras como sempre não chegaram a alcançá-los, mas deram tranquilidade o suficiente para que conseguissem intervir da forma correta no ataque do filho e evitar que este morresse.

"César, esta é a última vez que posso ajudá-lo. Daqui para frente, é sua escolha querer viver sua vida até o fim ou tentar encerrá-la como tem feito tantas outras vezes."

Com um toque de minha mão e uma leve transferência de energia, eu diminui mais uma vez a capacidade de locomoção do corpo de César, impedindo-o de mover a língua com liberdade.

"Seus pais vão ligar para um hospital depois do que aconteceu hoje. Lá eles vão saber como lidar com sua situação. Espero que entenda desta vez. Adeus"

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"Nenhum mal nos aflinge por razões alheias. Tudo tem sua razão, e não existem pontos sem nós "

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