Queria sentir tanto rancor
Que me fizesse esquecer de tudo o que já não lembro
Queria sentir tanta repulsa
Que me fizesse enojar tudo o que já não quero
Pois se fosse assim,
Eu poderia culpar.
Se fosse assim,
Eu seria melhor
Seria tudo por sua causa
Ou pelo menos,
Eu poderia acreditar
E acreditando,
Eu me sentiria melhor
Mas não
Eu só me sinto culpado
Eu só me sinto um tolo
Só me sinto mal
E é claro...
A culpa não é sua.
Lucas Rangel Lima
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"Quem sente seus sentimentos é você mesmo. Ninguém pode afetar isso."
31 de jul. de 2012
A História de Um Fantasma - Capítulo 4
Hoje Ele chegou atrasado. Eu já estava ficando preocupada, achando que talvez algo tivesse acontecido, que Ele talvez pudesse ter se machucado...
Que Ele talvez não viesse...
Mas Ele veio. Ele veio e me encontrou, como sempre. Parece estar mais cansado do que de costume, e não trouxe nem mala nem livro, mas Ele veio até mim e se sentou mais próximo do que nunca. Ficamos olhando para o céu pela janela, até que Ele adormeceu.
Sua respiração era suave e encantadora. Ele parecia tão indefeso, tão frágil... A cada minuto parecia crescer dentro de mim uma estranha vontade de protegê-Lo.
Mas protegê-Lo de que? E como? Eu... Sou só um fantasma. Nem mesmo sei o nome Dele. Não sei nada sobre a vida Dele. Nada desde o amanhecer até o anoitecer.
Ele só é meu por metade do tempo. Só durante a noite. Me pergunto o que Ele fica fazendo quando estou sozinha...
Será que Ele fica sozinho também? E eu sou sua única companhia?
Não pode ser...
Seria bom demais...
28 de jul. de 2012
Um Dia, Não Um Desafio
Acendo a luz do quarto
Sem saber direito o que quero
Jogo minha toalha molhada na cama do meu irmão
E tiro o violão dele da minha cama
Que horas são? Não faço ideia
Só visto uma calça jeans e uma regata
Um colar qualquer e dois anéis
"É. Preto hoje."
Olho pela janela e vejo as nuvens
Sem falar dos gatos, no telhado do vizinho
Me pergunto, como alguém alheio ao mundo
"Se chover, para onde eles vão?"
Coloco meu sax nas costas e saio
Quem me dera para encantar alguma garota
Mas alás, só gosto do peso em minhas costas
E de explicar que o que está na softcase,
Não é um violão.
A praia está vazia, os quiosques estão parados
Nas ruas apenas pombos e lojistas
E um idiota esperando a chuva, caminhando a esmo
Esperando nada, ou qualquer coisa
Cumprimento um conhecido, aceno para um amigo
Visito com os olhos alguns lugares
Espero andando as horas passarem
Como quem foge de ficar parado
Volto para casa, como e tomo outro banho
Escuto as conversas e respondo quando me chamam
Esqueço o que foi dito e nem mesmo ligo
Pois amanhã pode não ser igual
Mas tenho quase certeza de que será o mesmo...
Lucas Rangel Lima
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"Tentativas sem fé podem não trazer mudanças, mas também não alimentam a frustração."
23 de jul. de 2012
A História de Um Fantasma - Capítulo 3
Ele acordou cedo hoje e partiu. Acabei ficando um pouco decepcionada, mas não posso fazer nada a respeito então logo me conformo e volto a fazer o de sempre.
Assombrar minha casa.
Bem, antigamente eu chamava de “andar por aí”, mas aí comecei a me perguntar se o que eu tenho ainda pode ser chamado de “pé” e se eu realmente estou “andando”. E como eu nunca deixei a casa...
Deixar essa casa... Quantas vezes esse pensamento me tentou? Principalmente desde que Ele veio. Morro de vontade (tá bom, o mais próximo disso possível) de segui-Lo toda vez que Ele vai embora, de conhecer mais sobre Ele do que apenas seu gosto por livros de suspense... Mas por alguma razão a única vez em que estive fora desses muros desde que morri foi no meu primeiro dia como fantasma.
O dia em que eu morri.
Desde então, não consegui mais sair. Acho que eu tinha medo de ser encontrada por algum anjo querendo me arrastar para o céu ou sei lá. Não que agora eu ainda me preocupe com isso. Afinal, se existe algum anjo a me encontrar, com certeza é Ele...
Sim... Ele deve ser alguma espécie de anjo. Um anjo só meu. Alguém que se importa comigo e que vai sempre estar lá para mim.
Todas as noites...
Assombrar minha casa.
Bem, antigamente eu chamava de “andar por aí”, mas aí comecei a me perguntar se o que eu tenho ainda pode ser chamado de “pé” e se eu realmente estou “andando”. E como eu nunca deixei a casa...
Deixar essa casa... Quantas vezes esse pensamento me tentou? Principalmente desde que Ele veio. Morro de vontade (tá bom, o mais próximo disso possível) de segui-Lo toda vez que Ele vai embora, de conhecer mais sobre Ele do que apenas seu gosto por livros de suspense... Mas por alguma razão a única vez em que estive fora desses muros desde que morri foi no meu primeiro dia como fantasma.
O dia em que eu morri.
Desde então, não consegui mais sair. Acho que eu tinha medo de ser encontrada por algum anjo querendo me arrastar para o céu ou sei lá. Não que agora eu ainda me preocupe com isso. Afinal, se existe algum anjo a me encontrar, com certeza é Ele...
Sim... Ele deve ser alguma espécie de anjo. Um anjo só meu. Alguém que se importa comigo e que vai sempre estar lá para mim.
Todas as noites...
17 de jul. de 2012
O Herói Sem Pecado
Em um passado distante
Viveu um herói viajante
Que com uma espada cheia de coragem
Superava qualquer desvantagem
Durante suas aventuras
Ele derrotou inúmeras criaturas
Apenas seguindo seu caminho
Ele fez grande fama
Sozinho
Mas toda noite, antes de dormir
Ele dirigia os pensamentos até onde queria ir
Aos braços de uma princesa
Aos lábios de sua amada
À graça de uma deusa
E à felicidade, tanto desejada
Pobre herói, de grande fama
Destinado a sonhar sempre sozinho em sua cama
Pobre viajante, de grande estima
Mal sabe o que o futuro lhe reserva, sua sina
Pois toda noite, não importa o quando ele pensava
Ninguém desse herói sequer se lembrava
E toda noite, não importa com quem ele sonhava
Ninguém sonhava com ele
Ninguém o reciprocava
E no fim, ele se foi
Satisfeito? Talvez
Mas sozinho
E logo,
Esquecido.
Lucas Rangel Lima
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"É triste acordar sozinho. Principalmente para quem dorme apaixonado."
Viveu um herói viajante
Que com uma espada cheia de coragem
Superava qualquer desvantagem
Durante suas aventuras
Ele derrotou inúmeras criaturas
Apenas seguindo seu caminho
Ele fez grande fama
Sozinho
Mas toda noite, antes de dormir
Ele dirigia os pensamentos até onde queria ir
Aos braços de uma princesa
Aos lábios de sua amada
À graça de uma deusa
E à felicidade, tanto desejada
Pobre herói, de grande fama
Destinado a sonhar sempre sozinho em sua cama
Pobre viajante, de grande estima
Mal sabe o que o futuro lhe reserva, sua sina
Pois toda noite, não importa o quando ele pensava
Ninguém desse herói sequer se lembrava
E toda noite, não importa com quem ele sonhava
Ninguém sonhava com ele
Ninguém o reciprocava
E no fim, ele se foi
Satisfeito? Talvez
Mas sozinho
E logo,
Esquecido.
Lucas Rangel Lima
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"É triste acordar sozinho. Principalmente para quem dorme apaixonado."
10 de jul. de 2012
O Velho Mago
Era uma vez, um velho mago
Que havia vivido mais do que qualquer rocha,
Que entendia o mundo como um pai,
E que sonhava
Como uma criança
O mago era sábio
E conhecia demais tanto da terra quanto da magia
Sabia tudo sobre o homem e seus desejos contraditórios
Mas não conseguia deixar de amá-lo
E de falhar em guiá-lo
Fosse na forma de três reis
Carregando presentes pelo deserto
Fosse na forma de um conselheiro
Encantando espadas cravadas em pedras
Tudo sempre resultava em desgraça
E incontáveis mortes em vão
Por fim,
Eras se passaram perante os olhos do mago
E cada vez mais lágrimas ele vertia
Vendo os mesmos problemas, apenas evoluindo
Pouco a pouco do nosso mundo,
Quase pensei em arrancar aqueles olhos
E poupá-lo da dor de nos ver pecando
Mas eis que então, ele me disse:
"Sim filho, estou decepcionado
Mas não com vocês, nem comigo mesmo
Já vi o suficiente para saber que toda dor tem um propósito
E que seus irmãos são tolos que demoram para o compreender.
É claro que eu iria preferir que vocês nascessem todos sábios
Amorosos, inteligentes, dignos de respirar e de viver
Mas vocês precisam trilhar seus próprios caminhos
E conquistar, com mérito,
Todos os seus desejos
Já me cansei de ajudá-los
Está será a última vez
Enquanto a você, volte para sua casa e espere
Em algum momento de sua vida
Eu aparecerei para ti"
Muito tempo se passou desde então,
E o velho mago parece ter finalmente sumido.
Nunca mais o vi, e apesar da promessa, já não o espero...
Pois veja que triste,
Que havia vivido mais do que qualquer rocha,
Que entendia o mundo como um pai,
E que sonhava
Como uma criança
O mago era sábio
E conhecia demais tanto da terra quanto da magia
Sabia tudo sobre o homem e seus desejos contraditórios
Mas não conseguia deixar de amá-lo
E de falhar em guiá-lo
Fosse na forma de três reis
Carregando presentes pelo deserto
Fosse na forma de um conselheiro
Encantando espadas cravadas em pedras
Tudo sempre resultava em desgraça
E incontáveis mortes em vão
Por fim,
Eras se passaram perante os olhos do mago
E cada vez mais lágrimas ele vertia
Vendo os mesmos problemas, apenas evoluindo
Pouco a pouco do nosso mundo,
O pobre velho desistia
Na última vez em que falei com ele
Estava tão triste, que me vi chorando.
Na última vez em que falei com ele
Estava tão triste, que me vi chorando.
Quase pensei em arrancar aqueles olhos
E poupá-lo da dor de nos ver pecando
Mas eis que então, ele me disse:
"Sim filho, estou decepcionado
Mas não com vocês, nem comigo mesmo
Já vi o suficiente para saber que toda dor tem um propósito
E que seus irmãos são tolos que demoram para o compreender.
É claro que eu iria preferir que vocês nascessem todos sábios
Amorosos, inteligentes, dignos de respirar e de viver
Mas vocês precisam trilhar seus próprios caminhos
E conquistar, com mérito,
Todos os seus desejos
Já me cansei de ajudá-los
Está será a última vez
Enquanto a você, volte para sua casa e espere
Em algum momento de sua vida
Eu aparecerei para ti"
Muito tempo se passou desde então,
E o velho mago parece ter finalmente sumido.
Nunca mais o vi, e apesar da promessa, já não o espero...
Pois veja que triste,
Em sua ultimo apelo
Ele foi morto.
E nós agora
Estamos perdidos
Ele foi morto.
E nós agora
Estamos perdidos
Lucas Rangel Lima
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"A diferença entre o que é sacrificado por nós e o que nós sacrificamos é que o primeiro pode ser facilmente ignorado."
6 de jul. de 2012
A História de Um Fantasma - Capítulo 2
Como todas as noites desde que nos conhecemos, Ele não demora muito para me encontrar. Mesmo nesta enorme mansão, Ele sempre me encontra e logo se senta em algum lugar no mesmo cômodo. E então, de forma meio misteriosa, Ele pega um livro de sua bolsa como quem só veio até mim por acaso e começa a ler até cair no sono.
Assistir a Ele lendo e dormindo são minhas únicas diversões. Às vezes penso em falar com Ele, perguntar o seu nome, mas nunca consigo juntar coragem. Está bom assim. Não quero arriscar perdê-Lo...
É. Acho que me tornei uma daquelas jovens apaixonadas de romances de livros. Só que morta. Por um lado, posso assistir meu amado dormir todas as noites. Pelo outro, eu atravesso paredes.
Não consigo rir... Bem, não tem problema. O mais importante agora é...
“Uwaaa...”
...
Isso foi... Um bocejo? Ele ainda está acordado? Realmente, acho que ainda é muito cedo para começar a dormir, mas como eu vou saber? Não durmo faz tanto tempo... Ainda assim, Ele costuma ficar acordado por mais tempo não? Ele mal terminou de ler um capítulo! Será que está cansado? Me pergunto o que Ele fez hoje a tarde...
Melhor... Me pergunto porque Ele vêm aqui.
Será que Ele realmente vem para me visitar? Não, isso eu tenho certeza, já que Ele sempre acerta onde eu estou... E Ele não parece ser muito mais velho do que eu. Dezesseis, dezessete talvez? Ainda deve ser um estudante. Que tipo de pai deixaria o filho dormir fora todas as noites?
Ou será que Ele é um morador de rua? Não, Ele muda de roupa todos os dias... Talvez Ele esteja fugindo de casa? Também não, nesse caso Ele estaria carregando uma mala maior... Eu acho. Enquanto aos livros? Toda semana é um livro novo, ou mais. E não parecem ser de nenhuma biblioteca pública, não possuem selos nem carimbos...
Quando finalmente me dou conta, estou ajoelhada ao lado do rosto Dele. Uma face dormindo não vai responder minhas perguntas, mas não consigo me controlar.
“Eu queria poder tocá-lo...” Digo em voz alta.
Ele não me escuta. Claro que não...
Assistir a Ele lendo e dormindo são minhas únicas diversões. Às vezes penso em falar com Ele, perguntar o seu nome, mas nunca consigo juntar coragem. Está bom assim. Não quero arriscar perdê-Lo...
É. Acho que me tornei uma daquelas jovens apaixonadas de romances de livros. Só que morta. Por um lado, posso assistir meu amado dormir todas as noites. Pelo outro, eu atravesso paredes.
Não consigo rir... Bem, não tem problema. O mais importante agora é...
“Uwaaa...”
...
Isso foi... Um bocejo? Ele ainda está acordado? Realmente, acho que ainda é muito cedo para começar a dormir, mas como eu vou saber? Não durmo faz tanto tempo... Ainda assim, Ele costuma ficar acordado por mais tempo não? Ele mal terminou de ler um capítulo! Será que está cansado? Me pergunto o que Ele fez hoje a tarde...
Melhor... Me pergunto porque Ele vêm aqui.
Será que Ele realmente vem para me visitar? Não, isso eu tenho certeza, já que Ele sempre acerta onde eu estou... E Ele não parece ser muito mais velho do que eu. Dezesseis, dezessete talvez? Ainda deve ser um estudante. Que tipo de pai deixaria o filho dormir fora todas as noites?
Ou será que Ele é um morador de rua? Não, Ele muda de roupa todos os dias... Talvez Ele esteja fugindo de casa? Também não, nesse caso Ele estaria carregando uma mala maior... Eu acho. Enquanto aos livros? Toda semana é um livro novo, ou mais. E não parecem ser de nenhuma biblioteca pública, não possuem selos nem carimbos...
Quando finalmente me dou conta, estou ajoelhada ao lado do rosto Dele. Uma face dormindo não vai responder minhas perguntas, mas não consigo me controlar.
“Eu queria poder tocá-lo...” Digo em voz alta.
Ele não me escuta. Claro que não...
3 de jul. de 2012
A História de Um Fantasma - Capítulo 1
O que é estar vivo? Respirar, comer e crescer como os animais? Conversar e interagir com as pessoas que te cercam? Meramente existir?
Amar?
Faz tempo desde que essa pergunta começou a me incomodar. Muito tempo.
Era apenas um feriado qualquer. Os empregados haviam tirado um dia de folga e meus pais tiveram que sair. Eu iria ficar praticamente sozinha até tarde da noite.
Sim, certamente eu sabia que era perigoso. A mansão era grande e isolada, atraía muita atenção. Mesmo alguns guardas estando presentes, era certamente possível que alguém mais bem preparado invadisse e se aproveitasse da situação.
Infelizmente, isso não me preocupara. Era meramente uma possibilidade, uma hipótese. Melhor, algo que acontecia com os outros, no rádio ou no jornal. Não comigo. Nunca comigo.
Dói lembrar como eu fiquei surpresa e chocada com tudo. Em um momento, escuto um barulho vindo do lado de fora do quarto. Pensando que talvez meus pais tenham chegado mais cedo, resolvo ir cumprimentá-los como uma boa filha.
Em seguida, nada.
Não consigo me lembrar de mais nada depois disso. Ou melhor dizendo, as memórias de meu tempo viva acabam aí. Quando me dei conta, estava lá fora, morta. Meu corpo numa grande sacola preta, uma ambulância barulhenta e meus pais chorando. Já havia anoitecido, o que indicava que pelo menos cinco horas haviam se passado.
E desde então eu fiquei aqui. Meus pais não suportaram viver na casa onde a filha morreu, mas também não conseguiram demoli-la ou vendê-la. Nem sei se estão vivos ainda hoje. Não sei quanto tempo passou.
Muitas pessoas moraram aqui. Nenhuma podia me ver, mas acho que minha presença não passava despercebida. Em poucos anos, a mansão em que eu cresci e que um dia me abrigara havia ganhado fama de assombrada, e agora ninguém mais a habitava.
Apenas eu.
Engraçado... Não era como se eu tivesse companhia nos tempos em que estranhos viviam na casa sem saber de mim, mas agora que eu estou realmente sozinha, sinto falta de ter outras pessoas por perto. E acima de tudo, sinto medo...
Não. Eu sentia medo. Mas agora é diferente. Sim, todas as dúvidas e temores fazem parte do passado agora, basta esquecê-las. Está anoitecendo, mas eu não preciso me preocupar mais.
Porque Ele está vindo me visitar...
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