24 de nov. de 2010

Crônicas de um Espírito - Capítulo 5

Todos nós morremos um dia. Está é uma certeza que podemos ter a partir do momento em que nascemos. A morte do corpo virá para todos. As vezes você vive a vida livre como um pássaro, e as vezes nos vemos engaiolados em nossa própria impotência. Mas não tenha dúvida, o universo é imparcial e justo. É o nosso trabalho ajudar nossos irmãos a entender seus problemas e a superar suas provações.

Marcelo andava em sua moto pela avenida da cidade. Estava voltando da casa de sua namorada depois de mais uma briga. Uma forte tempestade começou a cair, forçando Marcelo a estacionar e a procurar abrigo.

O único lugar aberto era uma quadra coberta que ficava do lado de um terreno numa rua extremamente inclinada. Como era perigoso entrar com a moto naquela descida, Marcelo estacionou a moto na esquina e desceu a rua andando. A calçada parecia muito escorregadia, mas ele caminhava lentamente sem se preocupar com se molhar.

"Você costumava vir aqui com seus amigos quando era mais jovem. Onde estão seus amigos agora?" Perguntei.

Afetado pelas minhas palavras, Marcelo se sentou na arquibancada e começou a lembrar da época em que jogava com seus colegas nos finais de semana dentro daquela quadra. Haviam sido feitas muitas reformas para evitar os antigos deslizamentos que ocorriam na rua, tornando quase impossível pular as grades para o terreno.

"É verdade, muitas vezes a bola acabava sendo chutada para o terreno e você tinham que descer para pegá-la" Disse eu.

Novamente influenciado por mim, ele relembrou das inúmeras vezes em que a bola havia caído no terreno e todos ficavam com medo de ir buscá-la. Não demorou muito para seus pensamentos se voltarem aos seus antigos amigos.


"Onde estariam eles agora?" Pensava Marcelo. Ainda na juventude, a maior parte deles começou a se envolver com drogas e pouco a pouco, eles perderam contato. Desde então, nunca fez novas amizades. Agora ele era apenas um motoqueiro cansado e molhado que acabou de brigar com a namorada por algo bobo.

"Ainda existem muitas pessoas que lhe querem bem Marcelo. Seus amigos que já vieram também não são excessão." Disse eu.

Marcelo pegou o celular e tentou ligar para a namorada. A ligação caiu na caixa postal, ele presumiu que ela tivesse desligado o celular.

Levemente sonolento, Marcelo pensava em quanto tempo demoraria para a tempestade passar quando ele viu um dos garotos jogando na quadra chutar a bola por cima da grade para o terreno.

Convencido de que poderia ajudar, ele se voluntariou a ir buscar a bola. "É muito perigoso para garotos da idade de vocês pularem uma grade desta altura, ainda mais de noite!" Disse ele.

Confiante, ele escalou a grade e habilidosamente, ele desceu no terreno íngrime e recuperou a bola. Imediatamente, ele atirou a bola de volta, mandando-a por cima da grade de volta para o campo.

"É como quando você era jovem não é?" Disse eu.

Marcelo sorriu na chuva. Motivado, ele resolveu voltar para a casa da namorada e pedir desculpas pelo ocorrido. Em seguida, ele deu a volta no terreno e voltou a quadra, onde ficou até a tempestade parar.

Assim que a chuva acabou, ele subiu novamente em sua moto e disparou de volta a casa dela.

"Você é um homem muito bom. Espero que consiga passar pelo que passou nesta vida no futuro e ainda manter este sorriso. Mas não há mais necessidade de você continuar aqui" Disse eu.

A moto de Marcelo derrapou na pista molhada, colidindo com um poste enquanto ele era atirado de cabeça contra o chão. Seu capacete ainda estava pendurado na moto.

Lucas Rangel Lima

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"Abençoado é aquele cuja vida é repleta de memórias tristes, pois é este que mais sabe apreciar um momento feliz"

16 de nov. de 2010

O Rei e o Lobo - Capítulo 4: As Presas

Cansado, ferido e vitorioso, o jovem guerreiro retornou para o seu reino carregando como prova de sua grande vitória as duas presas da fera derrotada. Ao se aproximar das muralhas da cidade onde ficava o castelo, os guardas que estavam de vigia o reconheceram e o guiaram para dentro.

Uma vez dentro da cidade, os guardas o levaram direto para o castelo, onde ele foi informado que o rei iria lhe ver apenas no dia seguinte, pois no momento ele estava ausente. Exausto da viajem cansativa e privado de boas noites de sono, o jovem passou a noite dormindo no castelo, guardando seguramente as presas em seu punho fechado.

Ao cair no sono, o jovem guerreiro se vê de volta a floresta onde dias atrás havia enfrentado a fera. Confuso e perdido, ele se vira e se depara com uma sombra de aparência humana que se aproxima dele lentamente. A cada passo que a sombra dava, a floresta atrás dela se desfazia e o céu acima dela rachava. O jovem tentou se mover, mas seu corpo estava paralisado e ele só pode observar enquanto a sombra se aproximava dele e lhe estendia a mão fechada, como se lhe entregasse algo.

Quando esta estava a apenas alguns passos de distância, o jovem escutou algo se movendo atrás dele. Involuntariamente ele se virou e se deparou com um cenário completamente diferente e uma segunda sombra, desta vez ele a reconheceu como sendo o rei. O cenário era muito semelhante aos arredores do castelo, mas o rei não se movia em sua direção. Ele apenas esperava.

Sabendo o que deveria fazer, o jovem pegou as presas da primeira sombra e foi até a sombra do rei entregá-las. Mas ao se curvar a ela estendendo sua oferenda, ele foi surpreendido por um punhal em seu peito e uma risada maquiavélica.

O jovem acordou surpreso na manhã do dia seguinte e fitou as presas na sua mão. Aquilo havia sido claramente uma mensagem para ele, um aviso. Mas apesar disso, o jovem guerreiro prepotente foi a procura do rei.

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"Não é bom viver sonhando, mas quando não podemos viver nossos sonhos, tudo o que queremos fazer é sonhar."

14 de nov. de 2010

O Rei e o Lobo - Capítulo 3: A Batalha

Uma vez dentro da floresta, o jovem guerreiro começou sua procura pela fera. Sem temer a lenda que lhe foi contada, ele prosseguiu incansável por entre as árvores na escuridão da noite, mas apenas no crepúsculo do segundo dia que ele viria a encontrar seu objetivo.

Depois de andar por horas a fio sem encontrar sinal nenhum da existência da fera, o jovem guerreiro chegou a um grande altar abandonado. A grama crescia de todos os lugares e o verde da flora cobria o chão e as paredes. Aparentemente, o tempo havia tomado toda a majestade daquele lugar, mas ainda permanecia no ar o resquício de magia. Imediatamente, o jovem guerreiro se adiantou para explorar o templo, mas ao pisar na escadaria, ele sentiu o ar estremecer.

Como se fosse chamado pelo seu altar, a fera lupina finalmente se revelou. Seu tamanho era colossal, mesmo se comparado aos maiores ursos do reino. Seus olhos brilhavam com um desejo assassino e suas presas brancas como marfim pareciam vibrar de excitação. Não parecia haver mais nada do espírito protetor sobrando naquela fera. Ela agora era apenas uma máquina assassina com poderes além da imaginação.

Mas mesmo de frente a tal criatura, o jovem guerreiro não estremeceu. Erguendo sua espada contra a fera, ele investiu num ataque feroz. Sua habilidade em batalha foi testada além dos limites enquanto a fera golpeava e rugia incansável. Cada segundo parecia durar horas, a cada segundo pareciam passar dias e cada instante em que se estendia a luta parecia ser uma vitória para o jovem e corajoso guerreiro. Confiante em suas habilidades, ele partiu para o ataque novamente. Com uma velocidade vertiginosa, ele golpeou o rosto da fera, arrancando uma de suas presas.

No instante seguinte, a fera começou a urrar em dor e fúria enquanto seu poder se esvaia de seu corpo. Pouco a pouco seu tamanho diminuia enquanto a magia estocada em seu corpo retornava para a presa arrancada. O jovem guerreiro se aproximou surpreso da presa arrancada aproveitando do desespero da fera. Seu tamanho havia diminuido e agora ela cabia na palma de sua mão. Sua cor puramente branca agora brilhava com a luz da lua.

Mas o lobo não o deixou esperar mais. Recuperado da dor e da surpresa, ele atacou o guerreiro de frente pela primeira vez, por pouco errando sua cabeça. Seu tamanho e seu poder haviam diminuido, mas ele ainda possuía sua outra presa e metade de seus poderes divinos enquanto o seu adversário brandia uma espada cansado e ferido. Mesmo debilitado e machucado, o lobo ainda tinha a vantagem.

Mesmo assim, o jovem guerreiro ainda mantinha um sorriso no rosto. As coisas não tinham mudado desde o começo da luta, mas ele não planejava morrer ali. Apertando firmemente a pequena presa em sua mão, ele investiu contra o lobo com tudo o que tinha de sua força e habilidade. Ao final desta batalha épica, a última presa do lobo foi finalmente arrancada pela espada do jovem guerreiro.

Imediatamente, o altar entrou e colapso e foi engolido pelo chão num terremoto junto ao corpo do lobo. Cansado, ferido e vitorioso, o jovem guerreiro retornou para casa. Mal sabia ele o que as suas ações iriam desencadear.

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"A justiça foi criada pelos homens, mas ainda assim eles são incapazes de julgar seus limites"