2 de out. de 2010

Crônicas de um espírito - Capítulo 4

Todos nós morremos um dia. Está é uma certeza que podemos ter a partir do momento em que nascemos. A morte do corpo virá para todos. As vezes ela é particularmente cruel e acaba nos ferindo profundamente com culpa e pesar. Mas não tenha dúvida, o universo é imparcial e justo. É o nosso trabalho apoiar e guiar aqueles que se perdem ao perderem o próximo.

Fernando estava viajando de São Paulo a trabalho. Ele era caminhoneiro e estava terminado uma entrega de produtos na Baixada Santista, se aproximando de Peruíbe.

Ele estava muito cansado. Havia passado a tarde inteira dirigindo e mal podia esperar para poder jantar, assistir um pouco de televisão e dormir em paz. Sua esposa havia ligado para ele avisando que iria passar o final de semana na casa da mãe, que estava doente, deixando a casa só para ele.

Fernando também estava preocupado com a sogra, que está doente há muito tempo e não mostrava sinais de melhora. Mesmo com os desacordos com o sogro, ela sempre apoiava o relacionamento dele com sua filha, e doia muito pensar em perdê-la.

Mesmo assim, fazia muito tempo que ele não tinha um final de semana inteiro para si mesmo, então ele acelerou o caminhão um pouco mais.

"Tome mais cuidado no trânsito. Mesmo que você aumente a velocidade, não ganhará mais do que alguns minutos." Disse eu.

Minha vóz não o alcançou, mas mesmo assim ele pode sentir as minhas palavras e, consequentemente, diminuir para uma velocidade segura.

"Estamos quase chegando. Logo estaremos em Peruíbe e você poderá fazer a sua entrega. Mas nem tudo vai como o esperado. Você também não pode se culpar por isso sabe?" Disse eu.

Continuamos por mais alguns minutos na estrada até nos aproximarmos da entrada de Peruíbe. Fernando estava um pouco sonolento e planejava tomar um café na cidade antes de voltar para São Paulo. Já havia feito algumas entregar por lá no passado e conhecia alguns lugares onde poderia comer alguma coisa. Além disso, ele já estava ficando enjoado de tanto ficar na estrada.

"Preste atenção na estrada Fernando. Falta pouco." Disse eu "Hoje eu vim buscar um irmão que veio apenas para pagar o tempo que ele devia de sua vida passada. E você será o intermediário."

Fernando parecia mais disperto e atento conforme eu falava. apesar de não escutá-las, minhas palavras ainda surtiam efeito nele.

"Nada do que está prestes a acontecer é culpa sua. Isto também será uma provação para você. Não sofra mais do que o necessário, não há razão para carregar cruzes que não existem. A ilusão da separação é apenas momentânea. Encare tudo como uma lição."

Segundos depois, fizemos uma curva e entramos em peruíbe. Logo depois da pirâmide que marca a entrada da cidade, Fernando avistou a silhueta de uma mulher com um carrinho de bebê a atravessar a rua no sinal vermelho. Todo o resto aconteceu muito rápido. Um carro businou e avançou contra a mulher sem conseguir frear, atropelando-a. Numa tentativa de salvar sua criança, ela empurrou o carrinho para frente segundos antes de ser atropelada. O carrinho desgovernado acabou rodopiando e parando na frente do caminhão de Fernando. Não houve tempo para desviar.

Lucas Rangel Lima

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"Nada é como achamos que deveria ser, e entre as coisas que nós julgamos que deveriam ser, pouquíssimas estão certas. Sabendo disso, devemos tentar nos compreender e ao próximo, para entendermos por que as coisas são como são."

Um comentário:

  1. eu to ligada numa historia real parecida com essaaa, tenso tenso tenso D:/voce escreve bem, como smp :3

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