5 de ago. de 2010

Crônicas de um Espírito - Capítulo 2

Todos nós morremos um dia. Está é uma certeza que podemos ter a partir do momento em que nascemos. A morte do corpo virá para todos. As vezes ela envenena nossos corpos lentamente, as vezes ela nos abraça subitamente e nos afoga em desespero. Mas não tenha dúvida, o universo é imparcial e justo. É o nosso trabalho garantir que aqueles que se perderam no caminho da vida recebam ajuda ao fazer a travessia.

Rogério chegou tarde em casa. Havia passado o dia inteiro trabalhando e estava exausto. Ele morava sozinho em uma casa pequena no centro da cidade. Sua namorada vinha visitar de vez em quando, mas ultimamente ela vem reclamando demais do cheiro de cigarro impregnado na casa.

Em cima da mesa da cozinha havia uma caixa de cigarros. As palavras saiam roucas de sua garganta e seus pulmões fracos já não conseguiam puxar o ar direito, mas isso não impediu Rogério de pegar mais um cigarro e acendê-lo, sentando-se à mesa da cozinha.

"Sua namorada estará aqui amanhã de manhã" Eu disse a ele.

Minhas palavras não surtiram efeito algum. Meus pensamentos não podiam alcançá-lo. Ele só conseguia ouvir a ele mesmo.

"Tomara que aquela mulher não me ligue de novo hoje... já estou cansado de ouvir ela falando o que eu tenho que fazer o tempo todo" Pensava ele.

O vício já havia consumido sua mente. Seu egoísmo o havia cegado, e ele já não dava ouvidos a mais ninguém. Nem a ele mesmo.

Rogério fumava desde que tinha treze anos. Seus pais morreram cedo, e ele foi obrigado a cuidar de seus irmãos mais novos sozinho quando tinha 19. Mesma época em que seu vício começou a assumir o controle.

"Ela está ao seu lado a tanto tempo Rogério. Esta não é a coisa certa a fazer. você vai abandoná-la"
Disse eu.

Desta vez, ele reagiu.

"Quem ela pensa que é? Eu não sou mais uma criança, não preciso aceitar ordens de ninguém. Vivo minha vida do jeito que preferir"
Continuou ele.

"35 anos. Certamente você não é mais uma criança. Tem certeza da sua escolha?"
Disse eu.

Rogério começou a tossir. Conforme eu me aproximava a tosse ia se tornando mais violenta. Um pouco cambaleante, ele se levantou e procurou tomar um copo d'água. O copo tremia em suas mãos. Ao engolir a água, sua tosse diminuiu. Mas ele ainda não apagara o cigarro.

"Então estamos indo"

O telefone tocou. Era a namorada de Rogério.

"Parece que ela realmente se importa com você. Por favor, aproveite a chance que ela lhe deu"

Rogério antendeu o telefone.

"Alô?"

Sua vóz estava rouca e quase irreconhecível.

"Oi amor, sou eu... O médico ligou, ele disse que era terminal..." Disse ela

"Foi pra isso que você me ligou?" Respondeu ele, secamente.

"Eu só estou preocupada..." Continuou ela.

"Eu não preciso que sinta pena de mim"

Rogério desligou o telefone.

"Você fez a sua escolha" Disse eu.

Rogério sentou-se, acendeu outro cigarro e voltou a fumar.

"Vamos indo"

Eu estendi minhas mãos para o seu pescoço. Seus pulmões enfraquecidos pelo câncer não conseguiram aguentar e pararam de funcionar. Depois de agonizar por alguns segundos, ele deixou seu último cigarro cair ao chão.

Lucas Rangel Lima

-------------------------------------------------------------------------------------------

"As vezes nos irritamos com Deus ao ver nosso caminho bloqueado. Mesmo assim, Deus sempre bloqueia os caminhos que levam a perdição"

3 comentários:

  1. Parabéns meu lindo, o texto ajudaria muito em uma campanha anti-tabaco! Bjs...

    ResponderExcluir
  2. parabens lekk fikou muito booom!

    ResponderExcluir
  3. Espero que algum fumante leia e reflita!

    ResponderExcluir