26 de abr. de 2014

Inferno do Silêncio

No passado, havia um homem
Cuja única paixão e companhia
Eram suas próprias palavras

Tudo o que queria e sentia
Ele transformava em palavras
E com elas, adornava a si mesmo e sua casa

Como se fossem tesouros
Como se fossem sóis
Como se fossem luz
O homem transformava à tudo em palavras
Como se dessa forma
Ele fosse mudar
Fosse se tornar belo e amável

Mais as palavras não demoraram a traí-lo
Pois não importa o quanto ele enganasse a si mesmo
Elas eram verdadeiras, e refletiam todas as suas mentiras

Chegou então o dia em que ele parou de dizê-las
E assim, parou de fugir de seu vazio e de sua solidão
Sentiu nojo ao olhar para si mesmo e sua casa
E verteu lágrimas pela primeira e última vez, ao finalmente se ver são

Dias depois de selar seus lábios
Engasgado com seus desejos e sentimentos
Cansado de sua própria loucura e egoísmo
Ele pensou em falar novamente

Pensando que talvez, algo tivesse mudado
Que talvez agora, as palavras o salvariam
Que a negação de outrora era mil vezes melhor
Do que o Inferno do Silêncio que agora vivia

Mas já era mais do que tarde demais
Não havia palavra que capaz de tirá-lo do abismo
Nem loucura nenhuma capaz de fazê-lo esquecer seu egoísmo

Ele apenas ficou a adoecer no frio
Perder a luz, perder as cores
As emoções, a até mesmo as dores

Sumir
Parece até hoje ser tudo o que resta a sua alma

Lucas Rangel Lima

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