3 de nov. de 2011

O Devorador de Maldições - Capítulo 1: Passado (Parte 1)

De acordo com os anciões, fazem quase quatro séculos desde o fim da era dos heróis. Todas as espadas lendárias do passado foram destruídas pelas onze Misérias e suas Portadoras no final dessa era, e até hoje nosso continente não conseguiu se recuperar. Uma vez que as Portadoras transformavam seus donos em Misérias e davam a eles corpos imortais e poderes inigualáveis, nunca houve esperança para herói algum. E agora, o povo é obrigado a apenas aceitar a infelicidade eterna.

Bem, eu nunca concordei com eles. Talvez porque eu era muito infantil na época e não entendia tudo aquilo, talvez porque eu nunca havia visto uma Miséria, uma Portadora ou um herói. Mas neste momento, eu finalmente obtive minha certeza.




Minha vida toda eu morei em uma pequena vila cercada pelas montanhas, em um lugar seguro do continente. Bem, digo isso apenas porque nenhum daqueles chamados Misérias e suas Portadoras haviam jamais se aproximado dali. A vila ficava em um lugar horrível, próximo das regiões da floresta onde habitavam ursos e lobos. Sempre tive uma vida difícil, mas fui educado a não reclamar. Diziam-me que era uma benção termos "apenas" lobos e ursos como visitantes...

Tirávamos o necessário para viver da terra e dos rios, mas mal conseguíamos alimentar nossas crianças e idosos. Respirávamos o ar poluído por uma maldição antiga, e sofríamos por pecados que nunca cometemos. Mesmo assim eles ousavam dizer aquela palavra: "Benção".

Isso criou minha primeira imagem, meu primeiro medo das Misérias. Se realmente existia algo tão terrível que faria aquilo tudo parecer uma benção aos olhos dos sábios anciões, ele merecia ser temido. Mas logo eu cresci, e como todas as crianças da minha idade, comecei a questionar e a esquecer tais temores.

Então veio a adolescência, e eu comecei a perceber melhor o mundo ao meu redor. Os mais velhos, aqueles que fugiram de além das montanhas, não pareciam ser capazes de sentir felicidade. Isso nunca me passara pela cabeça, mas assim que eu me dei conta desse fato, meu segundo medo das Misérias nascera.

Afinal, aquelas pessoas eram fortes. Eram eles que enfrentavam os ursos e os lobos sem temer dia após dia. que adentravam a floresta por dias e noites procurando por comida. Aquelas pessoas, aos meus olhos de criança, não temiam nada.

Mas agora eu entendia o porque. Um terror que eu nunca poderia imaginar já havia os dominado uma vez, e roubado tudo o que podia de suas pobres almas. Aquelas criaturas que eu temera em minha infância eram reais.

Então, vivi minha vida agradecendo por nunca telas visto. E fui feliz, até aquele dia. O dia em que o homem do casaco branco apareceu.

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"A diferença entre o medo e o terror é que o medo pode ser combatido com coragem."

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