7 de jan. de 2011

A Vida Que Eu Sonhava Ter - Capítulo 3: A Cidade e a Biblioteca

Hoje foi o meu segundo dia cuidando desta fazenda e já me encontro completamente exausto. Não consigo imaginar como meu velho amigo conseguia dar conta de tantos detalhes diariamente.

Passei a noite inteira de ontem arrumando a casa até que ela ficasse num estado decente, e por causa disso acabei indo dormir muito tarde. Ainda assim tentei acordar cedo, e de manhã comecei a explorar os móveis da casa. Entre os eletrodomésticos restantes, apenas uma televisão antiga e a geladeira funcionam, o que significa que vou ter problemas para cozinhar sozinho. Fora isso, apenas uma mesa, um baú e o armário restaram.

Assim que terminei de ajeitar tudo, o prefeito retornou com um mapa da cidade e alguns documentos para que eu assinasse. Depois de resolver toda a burocracia, ele me levou para ver a cidade.

Primeiro, visitamos a igreja, que fica ao lado do cemitério. Eu particularmente não sou um homem religioso, mas como um estudioso achei interessante ver um lugar com tanta história e tão belo. O padre também era uma pessoa muito gentil e me convidou para visitar a igreja novamente assim que tivesse tempo.

Em seguida, fomos até um bar que ficava um pouco depois da igreja. Era muito cedo, por isso o lugar se encontrava completamente vazio. O dono do bar estava arrumando as mesas, e nos cumprimentou de forma muito educada quando entramos. Levamos um pouco mais de tempo por lá, pois ele nos ofereceu algumas bebidas, mas depois de uma boa conversa nós acabamos nos despedindo e eu fui novamente convidado para visitar o lugar mais vezes.

O terceiro lugar que visitamos foi a praça da cidade. Quando chegamos, haviam apenas algumas mulheres conversando. O prefeito me apresentou para elas e depois de alguns minutos conversando, elas logo perderam o interesse e voltaram a falar entre si. Acabando completamente ignorados, resolvemos partir sem mais delongas.

Saímos pela estrada a norte do parque, que nos levou direto a clínica da cidade. Lá dentro haviam apenas duas pessoas, um médico cujo nome eu já me esqueci e a senhorita Elen, enfermeira. O primeiro me pareceu uma pessoa muito antipática, completamente o contrário da senhorita. Seu sorriso inocente e sincero me conquistou instantaneamente.

Eu preferiria ter passado mais tempo por lá, mas o médico antipático disse que estávamos atrapalhando e nos expulsou. Ao saírmos, a senhorita Elen ainda brincou dizendo "Espero não vê-los tão cedo!".

Por fim, o prefeito me levou ao mercado. O vendedor pareceu extremamente frustrado quando dissemos que não iríamos comprar nada, mas fora isso ele me pareceu uma boa pessoa. Não nos demoramos por lá.

Terminando o tour, eu resolvi perguntar ao prefeito se havia algum biblioteca ou livraria por perto. Surpreso pelo meu interesse aparentemente incomum, ele me apontou o caminho para a biblioteca da cidade e me deixou partir sozinho para que me acostumasse a andar por ela. Não demorou muito até que eu encontrasse o que procurava.

Para minha satisfação, ela parecia ser bastante grande. No prédio ao lado, parecia haver uma escola fechada, mas eu não dei muita atenção e logo entrei sem nem mesmo bater na porta.

No segundo seguinte, meu queixo caiu.

A quantidade de livros era simplesmente absurda! Eles cobriam todas as paredes até o teto sem falar na quantidade de estantes lotadas perfeitamente organizadas! Eu me demorei por uns cinco segundos paralisado na porta e provavelmente teria ficado paralisado por mais tempo se não fosse pela jovem que gritou assustada e atirou para cima os livros que estava carregando.

"Você está bem?" Perguntei preocupado.

Ela hesitou timidamente por um segundo e depois respondeu "Quem é você?"

Inconscientemente, eu também acabei hesitando em responder pois fique encantado com a expressão extremamente fofa que ela fez ao dizer isso, mas logo respondi sua pergunta.

Depois de ouvir a história de como cheguei ali, ela simplesmente se levantou, apanhou os livros e disse "Desculpe por assustá-lo, mas dificilmente recebo alguma visita. Muito menos de um estranho..."

E com isso dito, ela se pôs a colocar os livros em seus devidos lugares de forma muito introvertida e evitando fazer contato visual comigo. Determinado a continuar a conversa eu perguntei "Tem algum livro que você me recomendaria?".

Ela congelou por um instante, como se esta fosse a última pergunta que ela esperava ouvir de mim. Em seguida, ela foi caminhando até uma estante no canto da sala e apontou para uma pequena série de livros, mantendo seus olhos fixos no chão.

"Aqueles são interessantes..." Disse ela.

Cada vez mais encantado com a timidez e com a fofura dela, eu agradeci e peguei um dos livros.

"Não quer pegar todos de uma vez? Assim não precisará de voltar toda vez que terminar de ler um." Ofereceu ela.

Naquele momento, eu morri de vontade de responder algo como "Mas assim eu não poderei vê-la com tanta frequência", mas minha própria timidez me forçou a responder um simples "Não tem problema." e voltar para casa.

Agora vou ler um pouco antes de dormir. Quanto antes terminar, mais cedo poderei voltar e vê-la. Também não seria nada mal voltar para a clínica e rever a senhorita Elen...

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"Novos começos são recheados de novos encontros e novas possibilidades. Só precisamos saber usar nossa experiência para fazer as escolhas certas."

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